Assistimos com indignação e revolta à chacina praticada pelas forças policiais do Rio de Janeiro na favela do Jacarezinho, zona norte da cidade, na manhã de quinta-feira (6). A operação, que flagrantemente descumpre decisão do Supremo Tribunal Federal sobre operações policiais na pandemia, foi o maior massacre registrado oficialmente, na extensa história de absurdos cometidos no Estado. O desprezo pela vida, o ódio ao povo, o racismo, a extrema covardia e violência que marcaram a ação, são imagens fieis do tratamento que as elites do país sempre deram ao povo ao longo da nossa história.
Sabemos que existem perspectivas de segurança pública, das quais obviamente discordamos, que entendem que ações violentas do Estado são, por vezes, necessárias para a tal garantia da "lei e da ordem". No entanto, sob qualquer visão, uma ação que termina com 29 pessoas assassinadas, inúmeras denúncias de graves violações de direitos humanos, passageiros baleados dentro do vagão do metrô, só pode ser considerada uma grande tragédia e mais um fortíssimo indício de que a tal ‘política de segurança’, baseada no confronto armado, fracassou de forma incontestável. No entanto, o genocídio é um projeto político no Brasil.
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Majoritariamente negro, nosso povo marcado por um legado de covardia e injustiça, forjado desde a escravidão, é ainda hoje alienado, super explorado, violentado e controlado para que continue produzindo a riqueza que poucos se apropriam e usufruem. A violência é ainda hoje um dos principais mecanismos para sustentar esse sistema de dominação de classes e racial no Brasil. Submetido à lógica imperialista de expansão do capitalismo, ao mesmo tempo que “disciplina” a mão de obra e o exército de reserva, elimina o excedente, cada vez maior em economias que ocupam o papel que a nossa ocupa, na divisão internacional do trabalho.
Esse mecanismo de dominação está de tal maneira arraigado, se tornou tão complexo, que mesmo sob governos progressistas, essa ‘Política de Estado’ não foi derrotada e continuou sendo efetivada.
No processo do Golpe de Estado de 2016 e da derrota estratégica sofrida pelas forças populares no Brasil, consolidada na eleição de Bolsonaro em 2018, a política do extermínio toma contornos de plataforma política eleitoral desesperadoramente eficiente.
A pandemia da covid-19 colocou a possibilidade de potencializar essa política genocida, que já ceifou a vida de mais de 400 mil brasileiras e brasileiros em menos de dois anos.
Todas as circunstâncias que envolveram a ação, desde suas justificativas até seu ‘modus operandi’, o cinismo do governador e o sadismo nas declarações dos chefes e delegados de polícia envolvidos, não deixam dúvidas de que o objetivo dessa ação não tinha nada a ver com os motivos alegados, ou até mesmo a garantia de qualquer das justificativas de sempre, mas sim com promover um massacre. É preciso responsabilizar e punir os responsáveis pela Chacina do Jacarezinho!
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Essa operação obviamente não está descolada de um processo político histórico, mas também conjuntural do Rio de Janeiro, das disputas políticas institucionais, mas também do crime organizado, que cada vez mais se confundem.
É público e notório o alinhamento subserviente do atual governador Cláudio Castro (PSC) ao ‘bolsonarismo’, corrente política extremamente articulada com as milícias e seus interesses. Essa aliança agrava ainda mais a profunda crise econômica do Estado, com um programa de privatizações e desmonte que potencializa a gravíssima crise social. Eles não têm nada além de morte a oferecer.
O ‘povo cuidando do povo’! Essa é a tarefa central das organizações populares nesse momento tão complicado. A solidariedade ativa, que apoia, que acolhe, mas que fomenta organização e mobilização das massas, no sentido da destruição dessa lógica perversa e na construção de um Projeto Popular, que tenha o povo como protagonista do poder, é a grande chave para que possamos romper com essa realidade. Portanto, nos colocamos completamente à disposição das famílias atingidas e moradores do Jacarezinho para prestar toda nossa solidariedade e força para lutar.
Entendemos como urgente que se estabeleça uma ampla unidade entre as forças progressistas do Estado para derrotar o bolsonarismo e toda sua expressão política na sociedade. Ao mesmo tempo, é fundamental forjar uma aliança entre as forças populares, capaz de formular um programa que tenha os interesses do povo do Rio de Janeiro no centro. Só assim conseguiremos acumular forças para transformar radicalmente essa lógica de extermínio e miséria.
“Maldito o soldado que aponta sua arma contra o próprio povo”
Simon Bolívar
Pátria Livre! Venceremos!
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Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD)
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)
Edição: Eduardo Miranda