América Latina

Greve geral e repressão policial seguem na Colômbia após queda de ministro da Fazenda

Um grande protesto foi convocado para quarta-feira (5) pelo Comitê Nacional da Greve, que reúne diversas organizações

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Familiares e amigos de Nicolas Guerrero, que foi morto após ação violenta da polícia, fazem vigília em sua homenagem em Cali, Colômbia, no dia 3 de maio - Luis Robayo/AFP

Em mais um dia de greve geral na Colômbia, esta terça-feira (4) inicia com novos protestos pelo país. Camponeses da região de Catatumbo, departamento de Norte de Santander, realizam bloqueios em rodovias contra o governo de Iván Duque. Na noite de segunda-feira (3), também ocorreram manifestações em diversas localidades, com forte repressão policial, como nas cidades de Cali, no Vale do Cauca, e em Bucaramanga, departamento de Santander.

A greve iniciada no último 28 de abril, ainda que sob forte ataque das forças de segurança estatais, já conquista vitórias. O ministro da Fazenda colombiano, Alberto Carrasquilla, renunciou na segunda-feira (3), depois que Duque desistiu de seu projeto de reforma tributária e pediu ao Congresso que retirasse a proposta.

A derrubada da reforma tributária – que pretendia aumentar em 19% impostos sobre serviços públicos, como gás e energia – é uma das pautas da jornada de protestos. A lista de reivindicações ainda inclui a retirada do “pacotaço” – que prevê mudanças e reformas nas leis do trabalho, na área da saúde e da previdência social –, o fim da violência policial contra líderes sociais e defensores de direitos humanos, além de uma série de exigências em diversas áreas sociais.

Violência desmedida

A cifra de mortos e feridos ao longo dos sete dias de jornada de protestos ainda é imprecisa. Organizações de direitos humanos relatam que foram ao menos 21 pessoas assassinadas por violência policial, já a Defensoria do Povo (órgão estatal) indica 19 vítimas fatais, sendo 18 civis e um policial. Os dados foram divulgados no domingo (2).

Contudo, novas denúncias de mortos e feridos não param de surgir. Segundo a Human Rights International, um massacre perpetrado pela polícia ocorreu na noite de segunda (3) no bairro popular de Siloé, em Cali. A ONG vem investigando as mortes de 6 pessoas, entre elas um menino de 11 anos, além de 18 feridos, incluindo uma criança de 7 anos.

Organizações de direitos humanos também denunciam a ação policial contra as missões independentes de verificação de casos de violência em Cali. De acordo com as entidades, um grupo de direitos humanos foi agredido física e verbalmente, além de serem alvos de disparos por parte de policiais de Cali, na noite dessa segunda (3).

"Nenhuma pessoa está a salvo de ser agredida pelas autoridades", diz Alejandro Lanz, co-diretor da ONG Temblores, em entrevista ao jornal El Espectador. Ele ainda adverte que o registro das entidades independentes não cobre a extensão da gravidade das violações dos direitos humanos no país.

Segundo levantamento da ONG Temblores, entre 28 de abril e 1 de maio, foram registrados 940 casos de violência policial, 92 vítimas de violência física, 21 mortos e 672 detenções arbitrárias.

Novo protesto massivo convocado

O Comitê Nacional de Greve na Colômbia convocou uma grande mobilização para a próxima quarta-feira (5). Em nota, as organizações sindicais e populares comemoram a conquista da pauta de retirada da reforma tributária e o apoio da sociedade à jornada de manifestações, mas também lamentam as ações de cerceamento de liberdade e repressão promovidas pelo Estado colombiano.

“Isto acontece após seis dias de greve nacional em que autoridades civis, militares e policiais têm diariamente cerceado as liberdades e garantias democráticas para o exercício de protestos sociais, deixando dezenas de pessoas mortas, centenas feridas e detidas”, assinalam no texto.

Entre as pautas apresentadas para a jornada de quarta, estão “garantias e liberdades democráticas, garantias constitucionais para mobilização e protesto”, junto à “desmilitarização das cidades, fim dos massacres e punição para os responsáveis” e fim do Esquadrão Móvel Antidistúrbios da Polícia (Esmad), principal força de segurança pública utilizada contra protestos populares e que faz uso de extrema violência.

Na lista de pautas, está que o governo monte um grupo de negociação com o comando de greve para debater propostas e implementar medidas de saúde - como a vacinação massiva da população contra a covid-19; renda básica de pelo menos um salário mínimo mensal; defesa da produção nacional (agrícola, industrial, artesanal, camponesa); subsídios às pequenas empresas e garantias de emprego com direitos;  entre outras.

Também estão na agenda pautas dos movimentos camponeses, como a proibição da pulverização aérea com o agrotóxico glifosato.

Edição: Vivian Fernandes