Na abertura da primeira reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, nesta quinta-feira (29), Marcos Rogério (DEM-RO) foi o primeiro senador a se inscrever para falar.
Durante mais de oito minutos, defendeu que todas as sessões sejam presenciais, assunto que já havia sido discutido e deliberado pelos parlamentares. Após quase uma hora de debate, o presidente CPI, Omar Aziz (PSD-AM), indeferiu o pedido.
“Nós já tínhamos discutido isso. Essa é uma pauta que já está definida. Vai ser semipresencial? Vai, vai ser semipresencial”, explicou Aziz.
Depois, foi a vez do relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), repreender Rogério. “Estamos diante de uma evidente obstrução. Essa comissão deveria ter sido instalada em fevereiro. Os senhores e o governo não quiseram a instalação. Hoje, nós chegaremos a 400 mil mortos”.
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Entre os 11 senadores que integram a CPI da Covid, Rogério é um dos quatro governistas, ao lado de Jorginho Mello (PL-SC), Eduardo Girão (Podemos-CE) e Ciro Nogueira (PP-PI). Durante a primeira reunião, os bolsonaristas tentarão lançar mão de diversos recursos para atrasar os trabalhos da comissão.
Jorginho Mello e Ciro Nogueira protocolaram cinco requerimentos que, segundo o jornal O Globo, teriam sido produzidos pelo Palácio do Planalto.
Durante a reunião desta quinta (29), o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) questionou a medida e afirmou que a CPI não pode ser pautada pelo governo. Para o senador, os bolsonaristas se organizaram para propor cerca de 20 requerimentos.
“Vamos aprovar se for assinado por um senador. O senhor não vai impedir de votar nenhum requerimento, não. Eu sei quais são os requerimentos que o senhor não quer”, afirmou Ciro Nogueira.
Os governistas querem convocar a médica Nise Yamaguchi, bolsonarista e defensora do tratamento precoce e do uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19, como a ivermectina e a cloroquina. Ela chegou a ser cogitada para assumir o Ministério da Saúde após a saída de Nelson Teich.
Em seguida, Calheiros subiu o tom e acusou os governistas de tentarem usar politicamente a CPI para reparar a imagem com seus eleitores nos estados.
“Não podemos votar requerimento para tirar o foco da investigação que estamos fazendo. O Brasil não vai perdoar nenhum dos senhores que está fazendo isso”.
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Rogério respondeu: “O relator deve respeitar o Senado Federal. Essa CPI não pode ser a CPI do ódio. Afasta o seu ódio, senador. Acalme-se, senador. Respire”. O bate-boca durou quase uma hora, até que Aziz colocasse um ponto final na contenda e determinasse o início da votação dos requerimentos.
Em poucos segundos, os senadores aprovaram a convocação dos ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich, Eduardo Pazuello e do atual ministro, Marcelo Queiroga, além do presidente da Anvisa, Antônio Barros Torres.
Em seguida, outros 300 requerimentos foram aprovados. Os senadores encaminharam ao governo federal e estados pedidos de informação sobre as medidas tomadas durante a pandemia.
Irritado, Renan Calheiros enviou um recado à minoria bolsonarista na CPI, no final da sessão. “Essa coisa de tropa de choque vir aqui defender coisa indefensável do governo, não vai passar”.
A próxima reunião da comissão será na terça-feira (4), quando o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, prestará seu depoimento.
Ciro Nogueira
Conhecido nos corredores do Palácio do Planalto como “zero cinco”, Nogueira se tornou o primeiro aliado de Jair Bolsonaro no Senado. Líder do governo na Casa, o presidente do Progressista costuma usar suas redes sociais e entrevistas para elogiar as ações do mandatário.
Entre os pares, na CPI da Pandemia, Nogueira é conhecido como “tesoureiro”, pois carrega embaixo do braço as propostas do governo para amenizar o clima contra Bolsonaro na comissão.
Em fevereiro de 2020, a Procuradoria-Geral da República o denunciou por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O senador teria recebido R$ 1,6 milhão pelo sistema de propina da Odebrecht, de acordo com a delação de diretores e executivos da construtora.
Na CPI da Pandemia, foi escalado para chefiar a diminuta ala governista durante as sessões.
Jorginho Mello
Vice-líder do governo no Senado, Jorginho Mello é figuração comum nas viagens e discursos de Jair Bolsonaro. Recentemente, acompanhou o presidente em viagem a Chapecó (SC), município elogiado por bolsonaristas pelo combate à covid-19, mas que é o terceiro em número de mortes em Santa Catarina, com 585 óbitos.
No oeste catarinense, defenderam o tratamento precoce, que inclui medicamentos sem comprovação cientifica.
Na reunião preparatória da CPI da Pandemia, Mello se apressou em defender o afastamento de Calheiros, opositor de Bolsonaro, da relatoria da comissão. Com a adesão apenas do bloco governista, o alagoano foi confirmado no cargo.
Marcos Rogério
Representante de Rondônia no Senado Federal, Marcos Rogério não poupa elogios ao governo federal e é considerado um importante aliado do Palácio do Planalto. Recentemente, reverberou o discurso de Bolsonaro e pediu que as igrejas fossem mantidas abertas durante a pandemia.
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Em agosto de 2020, foi convidado para ser vice-líder do governo no Senado durante um almoço promovido pelo deputado federal Fábio Ramalho (MDB-MG), com a presença de Bolsonaro. No evento, que ocorreu em meio à pandemia, os convidados não usaram máscaras e nem respeitaram o distanciamento social.
Eduardo Girão
Após a candidatura fracassada à presidência da CPI da Pandemia, quando recebeu apenas 3 votos, Girão protocolou um requerimento solicitando que governadores e prefeitos sejam convocados para depôr na comissão.
A pauta tem relação umbilical com o discurso de Bolsonaro que, para se defender da responsabilidade pelas 400 mil mortes geradas pelo coronavírus, imputa culpa aos mandatários dos estados e municípios.
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Outra pauta do presidente, encampada por Girão, é a oposição ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em março, entregou ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), um pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, inimigo dos bolsonaristas, após recorrentes decisões contra o governo.
Com R$ 36 milhões de bens declarados, Girão é o quarto congressista mais rico do Brasil e usou a imagem de Bolsonaro para se eleger, em 2018, no Ceará, onde lidera o bloco de oposição aos irmãos Ferreira Gomes, Cid e Ciro.
Edição: Leandro Melito e Poliana Dallabrida