VIOLÊNCIA

Estados Unidos registram mais de um tiroteio por dia em 2021, aponta relatório

Ataques aumentam enquanto o presidente Joe Biden pressiona o Congresso por reforma em lei sobre posse de armas de fogo

Brasil de Fato | Los Angeles (EUA) |

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Análise estatística da organização Gun Violence Archive aponta que mais de 500 tiroteios deverão ocorrer nos Estados Unidos ainda neste ano - AFP

O país mais afetado pelo coronavírus também sofre de outra pandemia: a violência armada. Um levantamento conduzido pela organização Gun Violence Archive mostrou que, só no ano de 2021 até agora, os Estados Unidos registraram quase 150 tiroteios – uma média de mais de um por dia. 

"A definição para tiroteio, nesta pesquisa, são ataques que matam ou ferem quatro ou mais pessoas, além do próprio atirador", explica ao Brasil de Fato o professor de direito da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) Eugene Volokh, especialista no assunto.

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Ainda de acordo com a organização, ataques à mão armada estão em franca escalada no país, e, só no ano de 2020, cerca de 20 mil pessoas foram assassinadas por armas de fogo, o maior número das últimas duas décadas. 



Para além do recorrente argumento de que a alta incidência deste tipo de violência em território norte americano esteja ligado ao fácil acesso às armas no país, Volokh propõe um novo olhar – um que avalie a cultura e a história dos Estados Unidos.

"Em alguns países europeus, onde a realidade econômica se aproxima da dos Estados Unidos, temos casos de alta posse de armas e alto homicídio, baixa posse de armas e baixo homicídio, alta posse de arma e baixo homicídio, como na Suíça, por exemplo", expõe o professor. 

"Acho precipitado, portanto, fazer essa associação direta entre oferta e arma e mortalidade, mas é fato que os EUA sofrem com esse tipo de violência. Talvez isso esteja mais conectado à cultura local, ao policiamento ou até à forma como as gangues se comportam por aqui", completa.

Se, por um lado, Volokh evita apontar uma única causa, por outro não faz rodeios ao caracterizar como "absurdo" o número de armas presente nos Estados Unidos. "Temos mais de 400 milhões de armas de fogo, mais de uma por habitante, e elas não vão a lugar algum", diz.

Essa disparada no porte de arma talvez esteja ligada à flexibilização das regras nos últimos 35 anos. Segundo o docente, em meados de 1980, apenas 10 ou 15 estados permitiam que adultos carregassem armas sem licença ou autorização – "agora são cerca de 40 estados que o fazem", conta.

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Reforma no controle de armas

Para tentar reverter essa lógica, Joe Biden tenta pressionar o Congresso a aprovar uma reforma no controle de armas, que visa restringir ou proibir por completo o acesso a armas semiautomáticas e de alta capacidade. No discurso em que abordou a temática, em abril, o democrata disse que "a violência armada, nos Estados Unidos, é uma epidemia e motivo de vergonha internacional".

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Ativistas e organizações ligadas ao movimento de desarmamento pedem que a Casa Branca invista, ao longo de oito anos, cerca de US$ 5 bilhões de dólares em programas locais de controle de armas, numa campanha que foca suas ações sobretudo em comunidades negras e latinas, onde os índices de criminalidade são maiores.

Volokh, contudo, salienta que o presidente pode fazer muito pouco nessa seara, porque os estados são independentes para balizar suas estratégias de defesa e segurança.

"Além disso, seria muito difícil saber qual lei conseguiria evitar um tiroteio. Talvez há medidas para dificultar o caminho do criminoso, mas se alguém está realmente determinado a assassinar pessoas, mesmo que isso signifique sua morte ou o resto de sua vida na cadeia, então o que mais seria capaz de detê-lo?", analisa.

Segundo projeção do Gun Violence Archive, mais de 500 tiroteios devem ocorrer no país ainda este ano, levando em consideração a taxa da violência registrada até agora. Esse número, contudo, pode ser maior, uma vez que ataques em massa, com armas de fogo, tendem a ser mais recorrentes no segundo semestre. 

Edição: Marina Duarte de Souza