Ao falar do processo de emigração de qualquer país, é necessário contextualizá-lo, uma vez que os elementos que o caracterizam estão ligados ao momento histórico específico em que ocorre. No caso particular de Cuba, sua relação com os Estados Unidos é um fator fundamental para a análise desse fenômeno.
A emigração de cubanos para os Estados Unidos a partir de 1959 e durante os primeiros anos da Revolução foi composta por dois grupos: pessoas intimamente ligadas ao governo de Batista, que fugiram rapidamente do país por terem responsabilidades diretas nos assassinatos e torturas cometidos durante os anos de ditadura, e os que fizeram parte da burguesia cubana junto com outros relacionados com empresas de capital estadunidense com sede em nosso país.
A esses grupos, também se juntaram pessoas vítimas de propaganda falsa, com o objetivo de desacreditar a Revolução. Um exemplo disso é a Operação Peter Pan, organizada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, a hierarquia da Igreja Católica em Miami, a Agência Central de Inteligência, CIA e organizações contrarrevolucionárias. 14.048 crianças foram enviadas sozinhas para os Estados Unidos, muitas das quais nunca mais viram os pais e sofreram abusos sexuais.
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E é que, desde os primeiros momentos em que os Estados Unidos assumem posições hostis à Revolução Cubana, o objetivo sempre foi destruí-la. Do ponto de vista da atividade migratória, uma das primeiras ações foi conceder refúgio a todas as pessoas que desejassem sair de Cuba. Por isso, programas especiais de ajuda foram organizados apenas para cubanos. Em dezembro de 1960, o Centro de Emergência para Refugiados Cubanos foi criado em Miami. Todos os cubanos receberam o status de refugiados que fogem do comunismo, embora não houvesse bases jurídicas reais para conceder esse status.
Esses programas receberam milhões de dólares em financiamento durante anos, principalmente de fundos federais. A onda inicial de emigrantes, graças ao apoio político e financeiro do governo dos Estados Unidos, tornou-se um terreno fértil para a proliferação de grupos agressores contra a Revolução a partir do território estadunidense, incluindo a Fundação Cubano-Americana e outros grupos armados. A maioria deles vinculados à CIA, que realizou missões terroristas como Bosch e Posada Carriles, responsável pela sabotagem de um avião da aviação cubana em pleno voo.
Por isso, pode-se afirmar que os laços migratórios entre Cuba e os Estados Unidos desempenharam e ainda desempenham um papel essencial na intensificação dos conflitos entre os dois países e constituem um veículo de agressão direta a Cuba.
Houve várias ações que os Estados Unidos usaram para promover a emigração cubana para seu país. Entre eles estão: A Lei de Ajuste Cubano, a lei “Pés Secos, Pés Molhados”, o programa Parole, que tentou provocar a saída de médicos cubanos das missões internacionalistas. Como conseqüência desse estímulo à emigração ilegal, muitos cubanos morreram ao cruzar o Estreito da Flórida em frágeis barcos.
Atualmente, parte dessa primeira emigração de natureza política trabalhou agressivamente contra a Revolução. Embora muitos já tenham morrido, há uma sucessão de alguns jovens que usaram a bandeira da luta contra Cuba como recurso para obter dinheiro e influência política. Porém, não são representativos ante as características da emigração cubana em sua maioria.
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Hoje, a emigração cubana nos Estados Unidos e no mundo em geral tem motivações econômicas, que derivam da ação do bloqueio contra Cuba. Os cubanos residentes nos Estados Unidos desejam manter uma relação normal e frequente com nosso país, mas não podem evitar a influência da agressiva política estadunidense que transformou este movimento natural dos grupos humanos em um fenômeno político.
A necessidade de acabar com o bloqueio imposto a Cuba pelos Estados Unidos há mais de 60 anos é um desejo que também a maioria da emigração cubana tem. Isso pode ser verificado pela participação nos eventos ocorridos no último fim de semana, quando em múltiplos espaços públicos e nas redes sociais de diversos países ecoaram o repúdio a essa política genocida, ou na participação constante de cubanos para fazer doações de medicamentos e utensílios médicos e de higiene para Cuba, país que sofreu um aumento de mais de 240 medidas para reforçar o bloqueio neste momento de pandemia.
Se algo caracteriza a atual emigração cubana, é, sem dúvida, seu profundo amor por Cuba. Não importa o aumento de ações midiáticas que tentam distorcer esta realidade por meio de notícias falsas, porque as pontes de amor que unem Cuba e cubanos são mais fortes do que as trincheiras da mentira.
*Jasely Fernández Garrido é funcionária do Consulado de Cuba em São Paulo
Tradução: Carmen Diniz
Edição: Vinícius Segalla