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A luta pela saúde: um chamado para a resistência

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A solidariedade ativa nas periferias, construída pela Campanha Periferia Viva, é um grande espaço de resistência e trabalho em defesa da vida do povo - Comunicação Periferia Viva
A luta coletiva na pandemia evidenciou que não há saúde quando não há proteção dos direitos

Cada geração é marcada pelos fatos históricos vividos no seu tempo. A pandemia do novo coronavírus se tornou o evento que afeta, desde março de 2020, o comum cotidiano das pessoas e a organização das nações do mundo.

O anseio de saúde, popular na linguagem da população, nas datas comemorativas e em situações simples, como após alguém espirrar, ficou mais desejoso.

Qualquer cidadão já fez muitas súplicas no último ano para que a saúde pudesse ser a prioridade antes do adoecimento e da abreviação da vida, como ocorreu com os quase 400 mil brasileiros desde o início da pandemia no país. 

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A pandemia deslocou a atenção da ciência para um vírus, proveniente de um "spill over", que é a capacidade de mutações deixarem de infectar somente animais e começarem a contagiar humanos. O tempo para conhecer este ser não vivo, que precisa adentrar em vias respiratórias para poder existir, é pequeno frente a capacidade de transmissão do mesmo. Em um pouco mais de três meses, o que chamava a atenção em Wuhan, na China, alastrou-se pelo mundo gerando uma pandemia. 

As fraturas que foram expostas pela pandemia são incontáveis. Uma delas, a que mais tem chamado a atenção, é a falta de preparo dos Estados neoliberais, incapazes de construir uma retaguarda para proteger os seus cidadãos.

A austeridade mata, não há dúvidas, e continua estrangulando vidas, com um orçamento para o Sistema Único de Saúde (SUS) que tem perdas bilionárias a cada ano após a aprovação da Emenda Constitucional número 95.

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Devido a falta de leitos, de investimento na atenção primária, de garantia de equipamentos de proteção individual, de disponibilidade de testes e análise dos resultados de forma rápida, esses tempos colocaram a morte em vantagem contra a vida.

Outra fratura exposta é o papel da ciência, que não é neutra, mas muito ajuda neste momento a colocar a tona como o vírus se comporta, formas de prevenção, medicações possíveis de serem usadas com evidência e descarte daquelas sem, como a cloroquina e a ivermectina.

A ciência tem ocupado o lugar das disputas, para aqueles que preferem duvidar, como o Ministério da Saúde, defensor do uso do "kit covid", e o Conselho Federal de Medicina, o qual apela para a autonomia do médico na escolha da prescrição de medicações sem eficácia.

Ambas as instituições reforçam o não comprometimento com a única forma que tem se mostrado viável para o enfrentamento à pandemia: a combinação de vacinação e medidas restritivas à circulação de pessoas. 

A experiência de luta coletiva na pandemia evidenciou que não há saúde quando não há proteção dos direitos básicos e fundamentais para a garantia da vida dos indivíduos.

A solidariedade ativa nas periferias, construída pela Campanha Periferia Viva, é um grande espaço de resistência e trabalho em defesa da vida do povo brasileiro. 

Para um enfrentamento exitoso da pandemia, é necessário agregar a defesa e fortalecimento do SUS, medidas restritivas com garantia do auxílio emergencial e educação em saúde sustentada nas evidências científicas, e não em fake news. Dado o cenário do Brasil e a condução do governo Bolsonaro, a batalha ainda será longa e o ensinamento é de que a saúde é resultado da luta, do enfrentamento e da resistência em defesa da vida.

 

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Poliana Dallabrida