Do dia 16 a 20 de abril, o Brasil registrou mais aplicações da segunda dose do imunizante contra o coronavírus do que da primeira. A informação atesta a paralisação na campanha de vacinação em meio a alta de casos da pandemia, já que a quantidade de novos imunizados serve como um termômetro do andar da campanha.
Isso porque, enquanto a segunda dose complementa a proteção de pessoas que já iniciaram a imunização, muitas não conseguiram sequer iniciar o processo sem receber a primeira dose.
Neste cenário, em meio ao atraso na entrega de imunizantes e no recebimento de insumos para produção, a maioria da população segue sem perspectiva. O mesmo já havia sido registrado em fevereiro, quando o Brasil dependia exclusivamente da produção do Instituto Butantan diante da demora do governo federal para adquirir outras vacinas.
Ainda que, em março, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tenha feito a entrega de milhares de doses da Covishield, produzida pelo laboratório AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, a quantidade não foi suciente para garantir o cronograma anunciado pelo Ministério da Saúde.
A situação se agravou após o Butantan anunciar que terá que adiar a entrega de doses da Coronavac para maio em razão de atraso na chegada de insumos para a fabricação em solo brasileiro.
Em entrevista ao UOL, responsável pelo levantamento, a Coordenadora do Programa de Imunização contra a Covid-19 no estado de São Paulo, Regiane de Paula, ressaltou a urgência da chegada de novas doses.
"Sem vacina, eu não posso abrir novas frentes de D1 [primeira dose]. Tenho que ser mais conservadora. Quando o correto seria, neste momento, estar avançando."
Preocupação global
Ainda que o numero de óbitos, hospitalizações e formas graves da covid-19 tenham apresentado queda em países que avançaram rapidamente na imunização, a Organização Mundial de Saúde (OMS) fez um alerta sobre a alta de novas infecções registradas nas últimas semanas.
Conforme monitoramento da Universidade Johns Hopkins, a quantidade de novos casos acelera semana a semana desde o fim de fevereiro. Atualmente mundo registra mais de 3,1 milhões de vítimas fatais da covid-19 e mais de 146,6 milhões de contaminações.
A maior preocupação é que o cenário propicie o surgimento de novas variantes resistentes às vacinas produzidas e aplicadas em nível global.
Entre os países que protagonizam a alta de casos estão, com destaque, a Índia e o Brasil, mas índices do Chile, Alemanha, Canadá e Uruguai, que já passaram de 20% da população total com ao menos uma dose, também preocupam.
As nações apresentam número de novas infecções ao menos 35% maior agora do que há um mês. No Uruguai, a taxa de contaminações diárias chega a ser 150% maior.
Na outra ponta, Reino Unido e Israel figuram como exemplos internacionais na vacinação, com 40% e 50% da população protegida, respectivamente. Somente no último mês houve uma redução de mais de 50% de novos casos em ambos os países.
Novas orientações
Os primeiros protocolos para tratamento do novo coronavírus foram recebidos pelo ministério da Saúde na última da semana. As orientações foram elaboradas por um núcleo técnico coordenado pelo médico Carlos Roberto de Carvalho, da USP, de acordo com informações da coluna Painel, da Folha de S.Paulo.
Os protocolos são os primeiros de uma sequência com outras etapas que ainda serão apresentadas e tratam do uso racional de oxigênio, com a intenção de reduzir o desperdício em meio a escassez da substância e problemas técnicos com os aparelhos.
A utilização de drogas sedativas, relaxantes neuromusculares e anestésicos na intubação também são orientações presentes nos protocolos. Há indicação, por exemplo, de qual droga é preferencial para realizar a intubação em uma sequência rápida.
Os protocolos também detalham quais são os medicamentos mais indicados e, caso haja indisponibidade, quais são os posssíveis substitutos.
A elaboração da série de orientações tem sifo feita em colaboração com sociedades médicas e a implatação de cada uma delas será decidida pelo ministro da pasta.
“Nunca vamos chegar ao lockdown”
Em coletiva concedida na tarde deste sábado (25), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tentou atenuar as críticas de Jair Bolsonaro ao lockdown, medida comprovadamente eficaz contra a proliferação do vírus, afirmando que adotar o bloqueio total de todos os serviços não essenciais seria uma alternativa radical.
Ele disse ainda que um lockdown no Brasil seria o fracasso das "medidas não farmacológicas", referindo-se ao uso de máscara e distanciamento social. Medidas que, contraditoriamente, já foram desrespeitadas inúmeras vezes pelo capitão reformado e outros integrantes do governo.
"O Ministério da Saúde não reage, ele age. Claro que se usarmos as medidas não farmacológicas, nunca vamos chegar ao lockdown, que é fruto do fracasso dessas medidas, e é nesse sentido que o presidente se manifesta", justificou.
Pandemia no Brasil
O Brasil registrou, até às 18h deste domingo (25), 32.572 casos de covid-19 nas últimas 24 horas, totalizando 14.340.787 infectados desde o início da pandemia no país, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Com relação ao número de óbitos, no mesmo período, foram 1.305, somando 390.797.
Os dados mostram que houve um recuo do número de casos diários, ainda que em níveis elevados. Na última semana epidemiológica, foram 408.124casos, ante 455.085 e 491.049 nas anteriores, respectivamente.
Edição: Rodrigo Durão Coelho