A falta de estratégias do governo Bolsonaro em relação à segurança alimentar da população durante a pandemia têm gerado filas quilométricas por comida. Além de burocracia, atrasos e valores insuficientes do auxílio emergencial lançaram a população à miséria e à fome.
É o que destaca matéria publicada nesta sexta-feira (23) no jornal diário estaduniense The New York Times, que critica o posicionamento cético do presidente em relação à gravidade da doença e seus impactos.
“Desde o início da pandemia, o presidente brasileiro se mostra cético quanto ao impacto da doença e desdenha a orientação de especialistas em saúde, argumentando que os prejuízos econômicos dos fechamentos, a suspensão das atividades empresariais e as restrições de mobilidade que recomendaram seriam uma ameaça maior do que a pandemia”, relata trecho da matéria.
Os jornalistas Ernesto Londoño e Flávia Milhorance destacam que em 2020, o valor do auxílio emergencial – que era R$ 600 a R$ 1.200 – ainda conseguiu colocar um pouco de comida na mesa do brasileiro, mas que a redução para R$ 150 a R$ 375 deixou muitos armários vazios.
A reportagem retrata filas de distribuição de comida no centro de São Paulo (SP), coordenada por voluntários, e cita a desvalorização da moeda e os níveis alarmantes de desemprego.
Números da pandemia da fome
No fim de 2020, dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 já revelavam o índice de que 19 milhões de brasileiros passaram fome e mais da metade dos lares no país sofreram algum grau de insegurança alimentar – quase o dobro em relação aos dados de 2018.
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No dia 13 de abril deste ano, um levantamento divulgado pelo Food for Justice – Power, Politics and Food Inequality in a Bieconomy, da Universidade Livre de Berlim, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade de Brasília (UNB), mostrou que 13,6% dos brasileiros com mais de 18 anos passaram ao menos um dia sem refeição, entre os meses de agosto e outubro de 2020.
A pesquisa que foi feita com 2 mil pessoas, entre novembro e dezembro de 2020, mostra que a insegurança alimentar - que atingia 36,7% das famílias brasileiras em 2018 - chegou a 59,4% dos domicílios. Ainda de acordo com o estudo, 6 em cada 10 residências brasileiras tiveram dificuldade para organizar, ao menos, três refeições diárias.
Os pesquisadores perguntaram se, entre os meses de agosto e outubro, algum dos entrevistados havia comido menos nas refeições porque não havia dinheiro para comprar comida, e 24,4% afirmaram que sim
A matéria destaca ainda os esforços de governadores e prefeitos, que atuam na tentativa de diminuir os impactos das campanhas “pró-covid” encampadas pelo governo Bolsonaro.
“Governadores e prefeitos de todo o país decretaram a suspensão das atividades de negócios não essenciais e ordenaram restrições à mobilidade, medidas que Bolsonaro chamou de 'extremas' e alertou que causariam desnutrição”, diz trecho.
Edição: Poliana Dallabrida