Rio de Janeiro

Em risco

Com volta às aulas, professores temem contágio e reclamam sobre falta de fiscalização

Nesta semana, mais 364 escolas da capital do RJ retornarão às atividades presenciais, somando 783 unidades em atividade

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Segundo o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação, 62 unidades de ensino apresentam suspeitas ou casos confirmados da doença - Foto: Arquivo/Prefeitura do Rio

Nesta semana, mais 364 escolas do município do Rio de Janeiro retornarão às atividades presenciais, totalizando a reabertura de 783 unidades de ensino. A volta às aulas ocorre a partir desta quarta-feira (21) e da próxima quinta-feira (22). Com a medida, todo o Ensino Fundamental I da rede pública passa a oferecer aula presencial.

O Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe-RJ) é contrário a volta às aulas neste momento. A entidade enviou um relatório para a Secretaria Municipal de Educação (SME) sobre a situação da covid-19 nas escolas municipais. De acordo com o documento, 62 unidades de ensino apresentam suspeitas ou casos confirmados da doença. 

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Para Dorotea Santana, diretora do Sepe, os protocolos de segurança contra a covid-19 não são suficientes e não possuem o acompanhamento de órgãos fiscalizadores de controle sanitário, como a Vigilância Sanitária e a Secretaria de Saúde.

“Na área da Barra [da Tijuca] e de Jacarepaguá, o Sepe já contabilizou 12 profissionais da educação que já faleceram pela covid-19. Temos um caso emblemático que é da profissional Solange, merendeira que jamais poderia ter voltado às atividades presenciais para entregar cestas [básicas] e cartões de alimentação aos responsáveis. Ela acabou contaminada, veio a falecer, sua mãe faleceu também e o seu marido se contaminou”, detalha.

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Além disso, outro fator que gera preocupação é o deslocamento até as unidades de ensino. De acordo com Santana, a zona oeste, em especial, tem sofrido com a falta de ônibus e a consequente lotação do transporte público, um meio em potencial para a transmissão do coronavírus.

“Os nossos alunos utilizam transporte público, principalmente a zona oeste, que os governos tiraram as linhas de ônibus e só nos resta o BRT. Estamos acompanhando como é o BRT no dia a dia levando os trabalhadores para as suas casas e locais de trabalho, muitos profissionais da educação também utilizam transporte púbico, principalmente os funcionários e é nesse segmento que estamos contabilizando um número absurdo de óbitos por conta da covid-19”, acrescenta.

Insegurança

O medo da contaminação faz parte do cotidiano de professores que temem não ser possível manter a rigidez dos protocolos sanitários no convívio diário com a comunidade escolar. Joana* é professora de uma escola municipal do Ensino Fundamental II.

As aulas na unidade ainda não retomaram para ela, porém a educadora já se preocupa com a segurança diante do aumento de casos de covid-19 no Rio.

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“O que me deixa vulnerável nesse retorno é desde o transporte público até exposição do contato com os alunos. É difícil ensinar o aluno do Ensino Fundamental, que vai chegar cheio de defasagem e dúvidas, tendo que ficar a um metro e meio de distância. É muito difícil acompanhar. A um metro e meio eu não enxergo o que o aluno escreve”, desabafa a professora que leciona há nove anos na rede municipal.

Vacinação 

No sábado (17), a Prefeitura do Rio iniciou a vacinação de profissionais da Educação Básica que estão atuando presencialmente nas escolas municipais e também nas redes estadual e federal da cidade.

Segundo o critério adotado pelo município, primeiro foram vacinados profissionais com 55 anos ou mais, incluindo os terceirizados. E no próximo sábado (24), serão vacinados os profissionais com 50 anos ou mais.

De acordo com a SME, 4.680 profissionais foram imunizados na cidade do Rio no último sábado. Na avaliação do Sindicato dos Professores do Município do Rio e Região (SinproRio), a ação foi discriminatória porque não incorporou os professores da rede privada de ensino.

A entidade entrou com um pedido de liminar no Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) ainda no domingo (18), no plantão judicial, para a inclusão dos professores da escola privada neste novo calendário de vacinação.

“Entendemos que a educação é uma concessão pública e é preciso que o governo governe para todo o cidadão carioca. Não dá para diferenciar se o profissional é da rede pública ou privada. Já reivindicávamos quando houve o retorno presencial da rede privada. Nesse período muitos profissionais da educação morreram, escolas omitiram contaminação para continuar funcionando”, afirma Duda Quiroga, da direção do SinproRio.

Prefeitura rebate

Ao Brasil de Fato, a SME alega que, desde o retorno das atividades presenciais, “nenhum aluno ou profissional foi contaminado nas escolas da rede municipal de ensino do Rio”. 

Segundo o órgão, as unidades escolares  seguem “o Protocolo Sanitário de Prevenção à covid-19 do Sistema Municipal de Ensino, elaborado pelo Comitê Científico de Combate à Covid da Prefeitura do Rio”.

A secretaria explica ainda que as unidades escolares que retomarem as aulas passam por um checklist sobre insumos e instalações, que estabelece pontos diversos como: “marcação do piso; distanciamento de 1,5m entre as carteiras; instalações de torres ou dispensadores de álcool 70º em gel no prédio ou funcionário aplicando álcool 70º na mão dos alunos; estoque de máscaras para eventual reposição; lixeiras sem tampa ou por acionamento por pedal; sistema de ventilação nas salas de aula que serão utilizadas (janelas ou portas abertas preferencialmente); sanitários e torneiras que serão utilizados em condições adequadas; dispensadores de papel toalha e sabonete líquido e bebedouros adaptados com torneira para enchimento de copos e garrafas”.

De acordo com a SME, o retorno às aulas presenciais é optativo e cabe aos responsáveis a decisão final. A secretaria afirma ainda que os professores que tiverem comorbidades seguem em modo remoto.

Com relação à imunização, o órgão informou que a partir de segunda-feira (26) serão vacinados profissionais da educação, incluindo os da rede privada, com idades entre 59 anos e 45 anos.

*O nome da professora foi modificado para garantir o sigilo da fonte.

Edição: Mariana Pitasse