ABRIL VERMELHO

Solidariedade e plantio de árvores marcam 25 anos do Massacre de Eldorado do Carajás

Programação do MST homenageia as 21 vítimas, denuncia a impunidade no caso e chama atenção para a volta da fome no país

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Massacre é lembrado pelo MST durante o chamado "Abril Vermelho"; por conta da pandemia, este é o segundo ano em que as ações são feitas virtualmente
Massacre é lembrado pelo MST durante o chamado "Abril Vermelho"; por conta da pandemia, este é o segundo ano em que as ações são feitas virtualmente - Agência Brasil | EBC

A data é 17 de abril de 1996: um dia para sempre marcado na história da luta camponesa. O país presenciou naquele ano uma das ações mais violentas praticadas pelo Estado brasileiro contra famílias do campo, o Massacre de Eldorado do Carajás. 

"Eu estava lá, eu e minha esposa e meus filhos. Aí atiraram em um companheiro meu, que caiu nos meus pés, eu olhei, vi o lugar da bala, ele já estava morrendo. Foi a hora que corri para o mato, eu e minha família, e eles ficaram lá na pista, atirando, xingando, chamando a gente de vagabundos, que agora a gente ia comer terra na cara, e matando e atirando", relembra Raimundo Gouvêa, que vive no assentamento 17 de abril e é um dos sobreviventes do massacre. 

O episódio ganhou manchetes no Brasil e no mundo pela brutalidade com que a Polícia Militar do Estado do Pará, comandada pelos coronéis Mário Pantoja e José Maria Pereira Oliveira, assassinou 21 pessoas entre os milhares de trabalhadores sem terra que faziam um protesto pacífico bloqueando uma estrada, no trecho conhecido como "Curva do S". Até hoje, nenhum dos 155 policiais foi condenado.

"Eles avançaram e já foram atirando só na cabeça. Era muita gente. A gente estava em 3 mil pessoas no meio da pista, entre grande e pequenos, neném de colo, neném que mamava ainda", relembra Maria Zeuzita, outra sem-terra que resistiu à barbárie.

Hoje, o massacre é lembrado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) durante o chamado “Abril Vermelho”. A jornada ocorre todos os anos e é um mês de luto e de luta camponesa internacional em defesa da reforma agrária. Por conta da pandemia, este é o segundo ano em que as ações são feitas à distância pelo movimento.

Uma delas ocorre neste sábado (17), a partir das 10 horas, e deve reunir mais de mil pessoas de diversos países. O Ato Político-Cultural, que marca o Dia Internacional da Luta Camponesa, o dia “D”, resgata a memória das vítimas e denuncia os 25 anos de impunidade do massacre. Serão realizadas ações simbólicas às 9h e também tuitaço nas redes sociais.

Jane Cabral, da direção nacional do MST no Pará, considera que o episódio deixou uma grande "mancha de sangue" na história do Brasil, mas que sua memória hoje é fonte de resistência.

"Nós transformamos isso em resistência, porque a gente diz que infelizmente nesse país se morre para conseguir a terra, mas esses mártires a gente não esquece, eles são plantados, e renasce muita esperança, muita resistência. O que a gente traz hoje é isso, é a resistência, é a continuação da luta pela terra, é a continuação de sonhos, a continuação de ter terra libertada", aponta Cabral. 

A programação do "Abril Vermelho", que também denuncia a volta da fome e as milhares de mortes pela covid-19 protagonizadas pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido), ocorre desde o dia 10 de abril com a 15ª edição do Acampamento Pedagógico Oziel Alves, jovem assassinado pelos policiais.

O evento ocorre tradicionalmente na "Curva do S", mas por conta das normas sanitárias, a maioria das atividades desta edição têm sido realizadas de forma virtual.

O encerramento da jornada será no dia 21 de abril com ações da campanha “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis” e atividades de solidariedade organizadas pelo MST em todo o país.

"Eles achavam assim: 'Vamos matar todo mundo, vamos acabar com tudo, vamos acabar com o MST'. Foi isso que eles imaginaram. Mas estavam muito errados, porque não calou a nossa boca. Nós continuamos e vamos continuar na luta. Enquanto a gente vir pessoas jogadas nas periferias da cidade, sem terra, sem ter onde morar, nós vamos lutar", afirma Zeuzita.

Edição: Camila Maciel