Londres

Prisão de Julian Assange completa dois anos; ativistas se mobilizam por sua liberdade

Manifestações ocorrem ao redor do mundo; Assange segue detido enquanto as autoridades dos EUA tentam sua extradição

Tradução: Vivian Fernandes

Peoples Dispatch* |
Assange denunciou e documentou crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos durante os conflitos no Iraque e no Afeganistão - Assange Defense

No último dia 11 de abril, o fundador do Wikileaks Julian Assange completou dois anos em uma prisão no Reino Unido. O pedido de sua extradição para os Estados Unidos foi negado por uma corte britânica, em 4 de janeiro; em seguida, os promotores que representam os Estados Unidos apelam em tribunais superiores contra a decisão. Assim, o ativista segue em prisão preventiva em Londres.

Apesar de Assange não enfrentar nenhum processo criminal no Reino Unido, os tribunais britânicos mantêm a decisão de mantê-lo detido na prisão de segurança máxima de Belmarsh.

E a administração Joe Biden continua a seguir a política da era Trump de processar Assange e o Wikileaks por expor os crimes de guerra dos EUA no Iraque e no Afeganistão.

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Em meio a esse cenário, ativistas, movimentos, organizações internacionais e figuras públicas continuam a denunciar a perseguição contra Assange. Vigílias e manifestações foram realizadas na Inglaterra e em outras partes do mundo no último domingo (11), em solidariedade com o ativista. Os eventos ocorreram do lado de fora da prisão de Belmarsh, do Tribunal da Magistratura de Westminster, onde foi negada várias vezes a fiança a Assange, e na Embaixada do Equador em Londres.

Segundo o Morning Star, eventos similares estavam agendados em Glasgow, nos EUA, México, Alemanha, Austrália e Canadá, entre outros, para protestar contra o que a colega de Assange e editora-chefe do Wikileaks, Kristin Hraffnson, chamou de "ultraje e uma farsa da Justiça".

Em declaração para a Associação de Imprensa, Hraffnson acrescentou: "Já se passaram dois anos de encarceramento, isolamento e tortura psicológica, tudo por expor crimes de guerra no Iraque e no Afeganistão, o mesmo jornalismo pelo qual Julian foi aplaudido em todo o mundo e nomeado para o Prêmio Nobel da Paz".

Sentimentos semelhantes foram ecoados por jornalistas, defensores da liberdade de imprensa e grupos progressistas em todo o mundo. O jornalista Glenn Greenwald chamou a prisão de "o mais grave e mais perigoso ataque do governo dos Estados Unidos à liberdade de imprensa dos últimos cinco anos".

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Preocupações sobre a deterioração da saúde física e mental de Assange afligem as organizações. Essa situação foi motivo para o tribunal de Londres rejeitar sua extradição, contudo, ela só vem piorando dentro de Belmarsh, em meio à pandemia da covid-19. Esse elemento é apontado como motivo para uma fiança a favor do ativista.

Em novembro de 2020, um grande surto de covid-19 ocorreu em Belmarsh e foi relatado por familiares e pessoas próximas a Assange.

Durante o julgamento de extradição, testemunhas especializadas apontaram, repetidamente, que Assange corre risco de suicídio se a ameaça de extradição continuar a surgir. Sua família e advogados têm apontado que ele foi colocado sob um bloqueio virtual em Belmarsh, com pouco ou nenhum espaço para que ele se encontre sua família, advogados ou até mesmo com os presos no bloco prisional.

Em uma declaração divulgada pela ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF), a diretora de Campanhas Internacionais, Rebecca Vincent, criticou os governos dos EUA e do Reino Unido e chamou a decisão de negar a fiança a Assange de "passo desnecessariamente cruel". A RSF foi uma das poucas organizações que foram liberadas para acessar com observadores aos processos de extradição e julgamentos de Assange e afirma ter "documentado amplas barreiras à justiça aberta".

"As questões de saúde mental que foram motivo para impedir sua extradição só se aprofundarão com a detenção prolongada, e sua saúde física também permanece em risco. Essa decisão é a última de uma longa linha de medidas desproporcionalmente punitivas contra Assange", acrescentou Vincent. O RSF também mudou sua bandeira para incluir uma mensagem Free Assange.

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Na Austrália, país de origem de Assange, uma grande campanha está em andamento para conseguir a intervenção do governo do país no caso. O governo do conservador Scott Morrison tem sido acusado de demonstrar pura indiferença, mesmo quando vários parlamentares australianos - tanto do bloco governante quanto da oposição - exigiram a assistência consular ao ativista, que tem sido negada até o momento.

A família de Assange também tem trabalhado incansavelmente na defesa do filho. Entre fevereiro e março deste ano, o pai de Assange, John Shipton, liderou uma turnê "Home Run For Julian" pela Austrália para reunir apoio para a campanha de sua libertação.

Enquanto isso, Stella Moris, noiva do ativista, também divulgou uma declaração, na página de arrecadação de fundos para a assistência jurídica de Assange, chamando para que as pessoas participassem das vigílias e manifestações de domingo, para relembrar a gravidade do caso.

"Relembre às pessoas que Julian publicou informações porque defende o direito das pessoas de saber o que o governo faz em seu nome. Lembrar-lhes que ele não fez nada de errado e colocá-lo na prisão é criminalizar o jornalismo. Lembre-os que ele tem uma família e que ele está sofrendo", escreveu Moris.

*Publicado originalmente no Peoples Dispatch.

Edição: Peoples Dispatch