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I Congresso Mundial Romani faz 50 anos: o que se sabe sobre esses povos tradicionais

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Apesar dos povos ciganos serem constituídos e reconhecidos pela Constituição Federal de 1988 enquanto povos tradicionais, pouco se faz para se proteger essas tradições - Agência Brasil
Saudações às comunidades Roma do Brasil e todos os povos tradicionais desta terra

Por Sara Macêdo de Paula*

Neste oitavo dia de abril, após o ano de 1971, e certificação de oficialidade da Organização das Nações Unidas (ONU), se celebra o Dia Internacional dos Povos Ciganos. Povos, no plural, pois se trata de uma diversidade étnica de alto grau de complexidade e tradições milenares e ancestrais.

Unificar diversos povos sobre a alcunha de um povo só não daria conta dos diversos mundos particulares e comunitários dos povos Roma no mundo. Ou seja, a unidade desagrega, e a diversa, permite. E infelizmente, para muitos povos ciganos transitarem no Brasil e no mundo, é necessária permissão dos indivíduos não-ciganos, geralmente brancos, e que detém poder na hegemonia.

Desejamos direitos reconhecidos, e não aculturação forçada e imposição de tradições.

Atualmente, apesar do funcionamento precário dos instrumentos de contagem do Estado, existem mais de um milhão de ciganos no Brasil. Entre comunidades itinerantes, semi andarilhas, ou mesmo sedentárias.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) precede de processos na justiça, a pedido das comunidades, e impetrado pelo Ministério Público Federal (MPF) para que atualize seus instrumentos censitários e faça justiça aos números ciganos no país.

Leia também: Artigo | Dia Internacional do Cigano e a luta pela garantia de direitos no Brasil

Para ter um número aproximado é preciso frequentar os acampamentos ciganos. O que não é feito. Se não existe um número no mínimo objetivo de nossos povos no país, as políticas públicas já começam cruelmente prejudicadas.

Muitas prefeituras do país, por exemplo, não dispõe de algo básico como lugar com condições sanitárias mínimas paras comunidades itinerantes de passagem.

Ao nos associar ao mistério e exotização, esquecem que também somos seres dessa terra.

Apesar dos povos ciganos serem constituídos e reconhecidos pela Constituição Federal de 1988 enquanto povos tradicionais, pouco se faz para se proteger essas tradições.

O trajeto Roma após 50 anos do I Congresso Internacional de nossos povos reforça que nossa identidade tem sido nossa força, pois são os próprios povos de etnia segurando direitos e tradições da comunidade.

Um exemplo disso é o trabalho da Associação Internacional Maylê Sara Kalí fundada em 2009, uma das organizações de ciganos responsável pelo ofício ao Ministério da Saúde para que haja projeto de vacinação para as comunidade ciganas no Brasil.

Saúde é uma questão importante para perceber as desigualdades. Geralmente quanto menor o acesso e dinheiro destinado, maior a vulnerabilidade dos povos.

Neste oitavo dia de abril, passo para contar a maioria que nos desconhece, que a hegemonia nos pinta e nos pintou bem distintos do que realmente somos.

Povos que não podem ser conhecidos fora da sua diversidade, das suas línguas, da ausência de um território nacional, mas um amor enorme pelas nacionalidades por onde fazemos nossa casa e às vezes somente estrada.

Sim, muitos ciganos ainda estão na estrada, e precisamos que esse direito nos seja mantido. Desejamos direitos reconhecidos, e não aculturação forçada e imposição de tradições.

Ao nos associar ao mistério e exotização, esquecem que também somos seres dessa terra. Fica aqui, por fim, o pedido de fé, que nossos povos sigam fortes, e nossa diáspora não tenha fim.

Saudações às comunidades Roma do Brasil e todos os povos tradicionais desta terra.

 

*Sara Macêdo de Paula é Pesquisadora em Direito Agrário pela UFG, do Coletivo Ciganagens e da etnia Kalón

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Leandro Melito