Após pedir um adiamento de 20 dias para seu depoimento, na manhã desta quarta-feira (7), o governador afastado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), teve pedido negado e foi convocado pelo Tribunal Misto do Estado a depor no mesmo dia. Por volta das 17h, Witzel iniciou sua defesa, marcada por choro e acusações ao ex-secretário de Saúde Edmar Santos. Essa é a última etapa do processo de impeachment do governador afastado.
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"É muito cruel o que estão fazendo com a minha família e minha esposa. Mas eu decidi deixar a magistratura por um ideal, pra que eu pudesse ajudar o povo do Rio de Janeiro. Por uma mudança (...) eu prometi que a saúde do estado ia ser exemplar. Mas infelizmente, o secretário que escolhi. Nós procuramos escolher alguém na Saúde que fosse qualificado, que conhecesse o RJ, mas mesmo assim”, disse, com a voz embargada.
Depois, acusou Edmar Santos de receber propina. Também disse que não tinha como saber que p ex-assessor integrava um grupo criminoso.
"As minhas reuniões com os secretários eram reuniões estratégicas, de definições de estratégia. Como foi a questão dos hospitais de campanha. Mas quem vai fazer e quem vai contratar, não depende do governador. E nem pode. O que hoje o ex-secretário Edmar veio falar é uma versão exclusivamente dele de que eu falei pra contratar OS x, y ou z", completou Witzel.
Debaixo dos lençóis
Além de Witzel, também depôs nesta quarta (7) o ex-secretário estadual de saúde, conforme noticiado pelo Brasil de Fato. Ao chegar ao TJ-RJ, onde está sendo sediado o Tribunal Misto, Santos fez um requerimento para que sua imagem não fosse veiculada na mídia e seu depoimento não pudesse ser gravado e transmitido até mesmo nos canais oficiais.
Ele alegou que vem sendo prejudicado pela exposição no caso que envolve propina na compra de respiradores para pacientes da covid-19 ainda no início da pandemia.
O Tribunal concedeu, e o ex-secretário, um dos primeiros delatores do esquema de corrupção na Secretaria Estadual de Saúde, entrou no local protegido por lençóis segurados por seguranças e por um biombo de madeira.
No depoimento, o ex-secretário afirmou que alertou Witzel sobre os riscos do esquema com a Organização Social (OS) Unir Saúde - que estava impedida de fazer negócios com o governo do estado.
“O senhor [Witzel] falou que iria requalificar a Unir, e eu disse que seria um 'batom na sua cueca'", afirmou.
O ex-secretário ainda disse que todas as OSs que atuam na área da Saúde do estado estão comprometidas. "Não existe nenhuma que atue de forma lícita, sem destinar algum recurso extra para agentes do governo. Mesmo as que venceram as licitações de forma regular também procedem dessa forma”, complementou.
Adiamento negado
Após o pedido de adiamento do depoimento do governador afastado, os membros do Tribunal Especial Misto entenderam que Witzel tentou criar uma manobra para atrasar o andamento do processo e manteve o depoimento para esta tarde.
Na última segunda-feira (5), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou mais um pedido da defesa de Witzel para que o processo de impeachment fosse suspenso.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Eduardo Miranda e Mariana Pitasse