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Artigo | Ditadura nunca mais: as favelas sofrem com os efeitos desses tristes anos 

As chacinas, os desaparecimentos forçados e os autos de resistência ainda são práticas que impactam hoje as favelas

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
favelas rio de janeiro
Na época da Ditadura Militar, inúmeras remoções e despejos foram realizados em todo o Rio de Janeiro - Mauro PIMENTEL / AFP

As favelas e periferias do Rio de Janeiro ainda sofrem com os efeitos da Ditadura Militar. As chacinas, os desaparecimentos forçados e os autos de resistência ainda são práticas que impactam a vida e o território favelado. Até hoje há uma política de segurança pública que atua de forma diferenciada na favela, ou seja, tratam a população habitante deste espaço - que em sua maioria é formada por pessoas negras - como as inimigas da sociedade.

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Na época da Ditadura Militar, inúmeras remoções e despejos foram realizados em todo o Rio de Janeiro, o afastamento desta população dos grandes centros urbanos e dos bairros ricos eram práticas colocadas como programa político.

Nada muito diferente do que existe atualmente, afinal, na última década mais de 50 favelas desapareceram do mapa, ao todo foram 77 mil pessoas removidas de suas casas só no Rio. Isso ocorreu mesmo diante de uma estrutura estatal que se coloca como democrática. 

O aumento da militarização da vida nos territórios empobrecidos - um dos grandes problemas enfrentados por quem vive nas favelas hoje - é resultado do controle estabelecido já naquela época.

Nas últimas décadas, os governos gastaram mais com compras de carros blindados da polícia (caveirões) terrestres e aéreos, do que com direitos básicos que garantem a vida: água, saúde, saneamento, cultura e habitação.

Mais uma prova de que o Estado de Exceção se faz presente nas favelas é que há poucos anos, durante os megaeventos no Rio, foram decretadas a Garantia da Lei Ordem (GLO) nestes territórios. Leis utilizadas nos anos da ditadura no país.

As favelas viraram grandes laboratórios de uma política militarizada e racista.

Em 2014, na Maré, tanques de guerra circularam às ruas, assim como em 2018 com a Intervenção Militar no Rio em que novamente foram as favelas e periferias que sofreram sendo mais uma vez grandes laboratório para técnicas da morte. 

Enfim, se o Estado de Exceção continua na favela, é papel de toda a sociedade lutar junto aos movimentos de favelas e de mães e familiares para que cada um destes casos sejam resolvidos, para que chacinas e autos de resistência acabem, para que nossas casas não sejam removidas, para que os nossos comunicadores locais não sejam censurados.

Enquanto moradora de favela, digo que não podemos retroceder, precisamos que os nossos direitos básicos sejam garantidos diante de uma democracia plena e que inclua as populações das favelas, do campo, do quilombo, das aldeias, pois somos parte da sociedade, da cidade e não inimigas da nação. Ditadura nunca mais!

Edição: Mariana Pitasse