Um dia depois de o governo federal tentar reduzir artificialmente os números de mortes por covid, ao exigir novos critérios para a contabilidade dos dados, o balanço de óbitos e novos casos desta quinta-feira (25) foi impreciso e parcial. De acordo com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), foram notificados 2.787 mortos nas últimas 24 horas. O total oficial de vítimas do coronavírus no Brasil é de 303.462desde o início do surto, em março do ano passado.
Já o balanço de novos casos não sofreu com a ação do governo federal. Hoje foi o dia com maior número de novos infectados registrado em todo o histórico da pandemia no país. Foram 100.736 novos contaminados, totalizando 12.320.169. Desde o fim do ano passado, a covid-19 circula de forma agressiva e sem controle no país.
O cálculo do número de vacinados também sofreu atraso hoje. De acordo com o último balanço, 12.793.737 pessoas já receberam a primeira dose de uma das vacinas em uso no páis, ou 6% da população. Destas, 4.334.905 (2% dos brasileiros) estão imunizados com a segunda dose.
Pior cenário
O pior momento da covid-19 no Brasil fica evidente pelos dados comparativos com o primeiro impacto do vírus, chamado de “primeira onda”, que ocorreu entre março e julho. “Durante a primeira onda, na Semana Epidemiológica (número) 30, em julho de 2020, o pico de notificações de mortes por covid-19 foi de 7.677. Até agora, em 2021, foi de 15.650 na Semana Epidemiológica 11, em março (de 2021), ou 104% a mais. Dado muito forte e que deixa claro o fracasso de 2020 e a derrota ainda mais nítida de 2021”, afirmou à RBA o epidemiologista e pesquisador da Fiocruz Jesem Orellana.
“Do dia 1 a 23 de março de 2021 foram notificadas 43.734 mortes por covid-19 ou 80,2% de todas as mortes por covid-19 na Argentina ao longo da pandemia (54.545 vítimas). Ou 55 vezes mais do que todas as mortes por covid-19 no Uruguai ao longo da pandemia (792)”, completou.
Mais mortes
Mesmo com a confusão nos dados causada pelo governo Bolsonaro, o Brasil segue como epicentro da covid no mundo. As vítimas brasileiras representam, nesta semana, um terço de todas as mortes pela infecção no mundo. Enquanto a comunidade internacional observa queda nos casos e vítimas, o Brasil segue no caminho oposto. Além do represamento de dados dos últimos dias, soma-se a isso uma intensa subnotificação, já que o Brasil testa pouco e mal. De acordo com cientistas, os números reais podem ultrapassar a casa dos 410 mil mortos.
A estimativa de que a crise é maior do que os dados oficiais sugerem partem de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz e da USP. Isso, a partir do excesso de mortes por síndromes respiratórias (SRAG), entre outros fatores. Se devidamente comprovadas, parte delas poderia aumentar as estatísticas da covid, dando uma ideia mais exata do caos sanitário que se desenvolveu no Brasil. “O total de 415 mil mortes por SRAG é a soma dos casos observados acumulados até 15 semanas atrás com as estimativas mais recentes corrigidas”, disse Leonardo Bastos, estatístico e pesquisador em saúde pública do Programa de Computação Científica da Fiocruz à BBC.