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Lira já ameaça Bolsonaro: "Remédios no Parlamento são todos amargos. Alguns, fatais"

Para presidente da Câmara, remédios “são aplicados quando a espiral de erros de avaliação se torna incontrolável"

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"Preferimos que as atuais anomalias se curem por si mesmas, frutos da autocrítica", disse Lira - Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Na tarde desta quarta-feira (24), o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), fez a primeira ameaça concreta ao mandato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). “Os remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos. Alguns, fatais. Muitas vezes são aplicados quando a espiral de erros de avaliação se torna uma escala geométrica incontrolável”, disse o deputado.

A declaração de Lira vem no contexto da reunião entre ele, o próprio Bolsonaro e os presidentes do Senado Rodrigo Pacheco e do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux para debater o combate à pandemia de covid-19. Cabe ao presidente da Câmara decidir pela instauração de um processo de impeachment.

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“Não é esta a intenção desta Presidência”, continuou, referindo-se a um eventual impeachment de Bolsonaro. “Preferimos que as atuais anomalias se curem por si mesmas, frutos da autocrítica, do instinto de sobrevivência, da sabedoria, da inteligência emocional e da capacidade política.”

Lira – hoje o principal líder do Centrão – se tornou presidente da Câmara com o apoio de Bolsonaro. O bloco informal passou a ser o sustentáculo do presidente da República em meados do ano passado.

“Sinal amarelo”

A manifestação de Arthur Lira surpreendeu pela contundência. “Como presidente da Câmara dos Deputados, quero deixar claro que não ficaremos alienados aqui, votando matérias teóricas, como se o mundo real fosse apenas algo que existisse no noticiário”, continuou. O parlamentar afirmou que está “apertando hoje um sinal amarelo para quem quiser enxergar”.

Ele também atacou indiretamente a pauta econômica do ministro da Economia, Paulo Guedes. “Não vamos continuar aqui votando e seguindo um protocolo legislativo com o compromisso de não errar com o país se, fora daqui, erros primários, erros desnecessários, erros inúteis, erros que são muito menores do que os acertos cometidos continuarem a serem praticados.”

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Como as velhas raposas da política, Arthur Lira dirigiu sua fala tanto à população brasileira, atingida pela catástrofe da pandemia, em muito incentivada por Bolsonaro, como às bases eleitorais dos deputados.

O recado foi de que a classe política não tem a intenção de cometer um suicídio por Bolsonaro. “Quero dizer a todos que estou sensível ao desespero dos brasileiros e à angústia de vossas excelências, que nada mais fazem do que traduzir o terror que testemunham em suas bases, em suas comunidades.”

O ex-deputado federal Wadih Damous, ex-presidente da OAB do Rio de Janeiro, comentou a fala de Lira, em seu perfil no Twitter. “No Centrão tem tudo quanto é tipo de gente. Só não tem suicida. Bolsonaro vai começar a lembrar uma parede podre. Basta meter o pé que vai. Artur Lira deixou isso claro hoje”, escreveu no Twitter.

Apesar dos esforços dos presidentes dos poderes para que se encontrem soluções conjuntas contra a pandemia, na reunião da manhã de hoje Bolsonaro continuou defendendo “enfaticamente”, segundo O Globo, o tratamento precoce da covid-19. Ele também atacou o lockdown, segundo o jornal.