O governo brasileiro faz a sua parte: atua em defesa dos desmatadores
No setor de alimentos, as principais economias do mundo estabeleceram o seguinte entendimento: as empresas que estão no topo da cadeia produtiva são responsáveis por garantir a proteção do meio ambiente. Esse comportamento deve permear todos os elos do negócio, desde a obtenção da matéria prima.
É um discurso muito difundido, mas ainda pouco praticado. Em muitas empresas, em nome da lucratividade, o valor da vida não entra nas contas. Por isso, há tanta devastação na Amazônia e no Pantanal. Ainda é lucrativo desmatar para produzir comida.
:: Carta assinada por 95 organizações responsabiliza agronegócio por fogo e desmatamento ::
Na cadeia produtiva da carne, multinacionais injetam dinheiro nas contas bancárias de grandes proprietários de terra. Os fazendeiros tocam fogo na mata, criam gado, entregam para os frigoríficos. O frigorífico faz o abate e depois vende para as grandes redes de supermercados.
Tanto frigoríficos quanto supermercados têm sólidos discursos de respeito à natureza e aos direitos humanos. Na prática, entretanto, o discurso não se cumpre.
O papel dos supermercados
Neste mês, o Greenpeace International divulgou os resultados de uma extensa investigação sobre os incêndios que reduziram a cinzas cerca de 30% do Pantanal brasileiro.
A organização rastreou a cadeia produtiva ligada aos incendiários e chegou a maior processadora de carnes do mundo, a JBS, que banca as fazendas.
JBS e outros frigoríficos, como Marfrig e Minerva, compram o gado das queimadas e entregam para grandes fornecedores de alimentos, dentre eles os maiores supermercados do mundo: Carrefour e Pão de Açúcar, do grupo francês Casino.
Também recebem essa mesma carne marcas bem conhecidas, como Nestlé, McDonald's e Burger King, dentre outros.
:: Fogo no Pantanal começou em fazendas de fornecedores de gigantes do agronegócio ::
Os grandes supermercados são os principais catalizadores da estrutura criminosa que toca fogo no Pantanal. Caso interrompessem a venda de alimentos produzidos em cadeias produtivas predatórias, o fluxo de dinheiro aos desmatadores e incendiários poderia ser substancialmente reduzido.
Conter as queimadas, por ora, é um sonho de final de verão, época das chuvas que arrefecem os incêndios.
Em breve as chamas voltarão, e as empresas se apressarão em divulgar seus relatórios de sustentabilidade, impressos em papel reciclado e ricamente ilustrados. É o estado da arte da hipocrisia.
O governo brasileiro faz a sua parte: atua em defesa dos desmatadores, persegue e censura servidores e conspira contra a própria estrutura de fiscalização, cortando verbas e recursos humanos.
O texto completo, com os resultados da investigação do Greenpeace, ainda está em inglês, mas pode ser baixado em formato PDF.
*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Poliana Dallabrida