A Bolsa é muito mais influenciada por expectativas do que a própria economia real
Recentemente meu irmão, Lucas, comentou que não entendia como a “economia ia bem” mesmo vendo tanto comércio fechar e gente desempregada. Aí fiquei reflexiva e perguntei: mas vai bem como? A resposta foi categórica: a bolsa sobe.
Frente aos últimos acontecimentos em torno do alvoroço do mercado em relação a elegibilidade de Lula, depois que o Ministro Fachin suspendeu as condenações proferidas por Sergio Moro, resolvi tentar explicar porque isso acontece e o que essas expectativas que envolvem valorização do dólar e baixa na Bolsa dizem sobre a economia real.
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A Bolsa de Valores é um local em que se negociam ações de empresas de capital aberto e outros valores mobiliários, como contratos de compra e venda de metais preciosos, commodities agrícola e moedas estrangeiras.
Por ser um local de permanente especulação com relação ao preço dessas ações e mercadorias, a Bolsa é muito mais influenciada por expectativas do que a própria economia real, que embora também seja volátil as expectativas, se baseia mais em indicadores do comportamento real das principais variáveis.
Ou seja, isso faz com que seja possível frequentes descasamentos entre a economia real, que a gente sente no dia a dia, e a pontuação da Bolsa. Mais que isso, a Bolsa de Valores brasileira é muito pequena, estamos falando de transações de ações em menos de 400 empresas. Obviamente esse movimento não reflete a economia real, ou seja, não é um indicador da saúde da economia brasileira.
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Mesmo a taxa de câmbio responde menos a elementos da economia real e interna e mais a movimentos especulativos internacionais. Como o Brasil atrai muito capital externo e temos uma conta de capitais abertas, a nossa taxa de câmbio é uma das mais voláteis do mundo. Assim, o real se aprecia ou deprecia em relação ao dólar muito mais por condições exógenas do que por erros e acertos da política econômica interna.
Mais uma prova disso é que a Bolsa de Valores já começou a operar em alta em maio de 2020, período mais drástico da pandemia, com efeitos deletérios sobre os empregos, a renda e as pequenas e médias empresas.
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Na contramão disso, foi em maio – também – que o câmbio mais de desvalorizou, saindo de RS 4 para R$ 5,80 cada dólar. Ou seja, nem o comportamento da Bolsa nem o do dólar podem ser associados, nem respondem a elementos da economia real (essa do nosso dia a dia).
Portanto, a mídia brasileira tradicional confere um peso exacerbado para variáveis de mercado, fazendo com que se confunda – propositalmente – os interesses do mercado e dos investidores com os interesses da sociedade brasileira.
Claro que o comportamento da Bolsa é importante, mas seu peso é sobrerepresentado. A taxa de desemprego, de pobreza, o índice de desigualdade não aparecem de forma tão cotidiana nos jornais como aparecem os indicadores do dólar e da Bolsa.
A Bolsa, no fim das contas, responde a lógica do lucro dos acionistas, portanto, é uma expressão, também da luta de classes. Os trabalhadores desejam ser menos explorados, o que os deveria levar a escolher candidatos que proponham regulações no mercado privado e no preço dos salários. Obviamente isso impacta a bolsa, mas nesse caso é sintomático de interesses relativamente conflitantes. Por isso o “mercado” responde com nervosismo a possibilidade de Lula disputar as próximas eleições, mas não responde da mesma forma a mortes diária de mais de duas mil pessoas.
Acontece o que Karl Marx se referia quando explicitava o “fetiche” da mercadoria, que significa a forma como o capitalismo humaniza e dá contornos sentimentais às mercadorias e ao mercado, ao passo que desumaniza o próprio ser humano, que esse mesmo se torna mercadoria.
Portanto, a lógica dos mercados não reflete a dinâmica real necessariamente, mas reflete a dinâmica da luta de classes.
O que é bom para o mercado financeiro não necessariamente é o melhor para a sociedade brasileira, ou a lógica que regem as expectativas de mercado não necessariamente reflete as expectativas de melhoria de vida da população trabalhadora.
*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Rebeca Cavalcante