PERSEGUIÇÃO

Ex-jogador do Treze de Campina Grande denuncia racismo em supermercados da cidade

Em vídeo divulgado nas redes sociais, atleta desabafou: “Eu sou seguido, as pessoas me olham e vêm atrás de mim”

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Ex-zagueiro do Treze de Campina Grande, Tiago Messias sofreu várias contusões e precisou abandonar a carreira - Foto: Leonardo Silva / Jornal da Paraíba

Tiago Messias de Jesus, ex-jogador do Treze de Campina Grande, usou o Facebook na última segunda-feira (1º) para relatar a discriminação que sofre nos estabelecimentos da cidade. Segundo ele, seguranças de alguns supermercados atacadistas vêm perseguindo, diariamente, as pessoas pela cor da pele. 

"Eles não estão preparados para o trabalho deles e, infelizmente, seguem as pessoas pela cor da pele, e pela forma como as pessoas estão vestidas. Já vi meninas pequenininhas, que moram em comunidade, e que às vezes são seguidas dentro do mercado. Eu fico triste, dói muito em meu coração".

Perseguição

"Tenho ficado calado, não vou citar nomes de estabelecimento nenhum, mesmo porque isso acontece em muitos estabelecimentos, não só em mercado, mas em lojas de roupa e em vários lugares. Eu sou seguido, as pessoas me olham e vêm atrás de mim, e isso eu não vou aceitar".

Tiago também avisou que não pretende entrar com qualquer ação judicial contra os supermercados. "Não quero dinheiro. Quero que parem de me seguir", informou.

Diariamente ele precisa ir a supermercados atacadistas para abastecer o restaurante onde trabalha. Em seu relato, desabafa estar cansado de ser seguido por seguranças dentro dos estabelecimentos. Segundo ele, sua família, que muitas vezes o acompanha nas compras, sofre a mesma discriminação.

"Tem acontecido de forma recorrente e eu não posso aceitar isso. No sábado, cheguei ao meu limite. Chamei o cara da segurança, não o desrespeitei, e perguntei porque me seguem. Um deles disse que nem tinha me visto, como se fosse coisa da minha cabeça, mas não é".


Depois do futebol, Tiago Messias chegou a vender águas no semáforo / Foto: Tv Paraíba

Em virtude de seguidas lesões, Tiago Messias teve de abandonar a profissão. Casado e com três filhas, chegou a vender água em semáforos. Hoje, frequenta a igreja evangélica, mas em seu relato conta que ficou tão revoltado que chegou a perder alguns cultos. 

"Sábado passado deixei de tocar na igreja porque estava com meu coração cheio de raiva, cheio de revolta, porque não aceito isso. Só sabe quem sente na pele", conta.

Ex-zagueiro do Treze, com destaque no bicampeonato paraibano 2010-2011, Messias sofreu várias contusões, a maioria delas no joelho direito, e precisou passar por quatro cirurgias, todas insuficientes para resolver o problema.

Com dores intensas que nunca mais lhe abandonaram, se viu impedido de continuar jogando e encerrou a carreira. 

Violência contra homens negros no Brasil

O caso é de alerta. A violência contra homens negros praticada em supermercados no Brasil vitimou ao menos três pessoas e teve outras torturadas nos últimos dois anos.

No dia 19 de novembro de 2020, véspera do Dia da Consciência Negra, João Alberto Silveira Freitas, homem negro, de 40 anos, foi espancado e morto por dois seguranças brancos em uma unidade do supermercado Carrefour de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Em 2019, um adolescente negro foi filmado nu, com as mãos amarradas e a boca amordaçada, sendo chicoteado por seguranças do supermercado Ricoy, na Zona Sul de São Paulo.

Para o advogado criminalista Flavio Campos, integrante da Educafro, os repetidos casos indicam racismo na atuação dos seguranças que trabalham nas redes de supermercados.

Segundo Campos, há uma ideia de que as pessoas negras não são consumidores, destinatários do produto ou serviço ofertado, mas são vistas como um perigo.

“Todos os negros passam por isso. Seguranças fazem questão de te perceber no espaço e mostrar que estão de olho em você, que é um perigo, não um consumidor”, afirma.

O advogado ressalta que todas as pessoas dos casos citadas são negras. “Qual pretexto para espancar uma pessoa até a morte? Por que vai torturar? A única coisa que relaciona essas pessoas é a cor da pele”, defende ele em entrevista à Ponte.org.

Fonte: BdF Paraíba

Edição: Maria Franco e Poliana Dallabrida