Imagens recentes de um Pantanal alagado e esverdeado têm circulado pela internet e gerado espanto pela rápida transformação do bioma, que estava tomado pelas chamas meses atrás.
Feitas pelo biólogo Gustavo Figueroa, da organização não governamental SOS Pantanal, as imagens mostram uma boa recuperação da área. “Sem dúvida nenhuma, é uma melhora. O fogo passou, a água veio, muitas vegetações começaram a brotar", pontua.
No entanto, o biólogo alerta que o otimismo deve ser comedido. "É preciso ter muito cuidado para não confundir que esse verde [seja sinônimo de] que está tudo bem."
"90% desse verde são capins e cipó, vegetações primárias que se dão bem no ambiente mais hostil, que se estabelecem em ambientes menos saudáveis, que precisam de pouco para crescer”, completa Figueroa.
Os incêndios no Pantanal entre março e outubro do ano passado foram os mais intensos nos últimos 47 anos, e seus impactos ainda são inestimáveis. Foram cerca de 4,5 milhões de hectares queimados, área que corresponde a 30 vezes o tamanho da cidade de São Paulo (SP).
Segundo ambientalistas, o processo de recuperação deverá ser lento e sistêmico.
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Coronel Rabelo, que está há mais de 40 anos à frente do Instituto Homem Pantaneiro, conta que, após o combate direto ao fogo, um dos focos da organização é o cuidado com a fauna.
O instituto atua no Parque Estadual Encontro das Águas, local com uma das maiores populações de onças pintadas em ambiente livre no mundo, e foi um dos responsáveis pela soltura da onça Jou Jou, no mês passado. Ela havia sido duramente ferida nas queimadas.
Após a soltura, o ambientalista conta que o animal já foi avistado e está em boa recuperação. “Agora já está andando bastante lá, nadando, atravessando o rio Paraguai para lá e para cá”, conta Rabelo.
O instituto também tem distribuído alimentos para os animais em locais onde os incêndios foram mais intensos, além de continuar o trabalho de recuperação de áreas degradadas.
Nesse sentido, uma outra ação inovadora vem acontecendo entre o SOS Pantanal e populações da Terra Indígena Cachoeirinha e Aldeia Mãe Terra, no Pantanal do Mato Grosso do Sul.
Por meio do plantio de árvores nativas em sistema de agrofloresta, a proposta do projeto é recuperar áreas degradadas e nascentes.
“A ideia é a gente criar esse ambiente em um lugar para dar certo e depois expandir para outras áreas do Pantanal, outras terras indígenas que precisam dessa restauração”, complementa Figueroa.
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Além de recuperar, é preciso prevenir, já que períodos de seca e fogo são cíclicos no Pantanal. Para isso, brigadas voluntárias de combate a incêndios têm sido organizadas com recursos levantados pela sociedade civil.
Porém, o ideal seria uma mudança na ação do governo, que demorou a agir no ano passado. Infelizmente, para este ano, o indicativo não é de melhora. O Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2021 mostra uma redução de 27,4% da verba destinada à fiscalização ambiental e ao combate a incêndios em relação ao ano passado.
Para os pantaneiros, a falta de recurso pode colocar em risco as áreas protegidas do Pantanal, que representam ainda 70% de seu território. Para eles, a beleza da vida é inegociável e inestimável.
"Que a importância de uma coisa não seja medida com fita métrica nem com balanças, nem barômetros, que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produz em nós", conclui Coronel Rabelo.
Edição: Raquel Setz