Um novo vazamento de lama no município de Brumadinho (MG) deixou moradores do Córrego do Feijão em clima de apreensão desde a manhã de sexta-feira (19).
Por conta das fortes chuvas, efluentes sólidos sob responsabilidade da MIB Mineração Ibirité LTDA tomaram a estrada que liga as comunidades de Casa Branca e Córrego do Feijão, em uma região conhecida como “Reta do Jacó”.
Sem deixar feridos, o vazamento escoou também em dois afluentes do Rio Paraopeba, cujo curso segue contaminado com rejeitos tóxicos da Vale, dois anos após o rompimento da Barragem I, da Mina Córrego do Feijão.
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Atamaio Ferreira é ex-segurança da Vale e morador da comunidade há mais de 30 anos. Ele conta que o derramamento é reincidente nos períodos de chuva, e nunca é, de fato, resolvido pela MIB e pela Vale, as duas mineradoras que atuam na região.
"Isso aconteceu nesta proporção há seis anos atrás. Nessa época, a gente colocou umas manilhas e limpou tudo. Para suportar só o que desce da área da Vale, aí tudo bem, estava aguentando. Só que essa mineração da MIB agora ela começou a lavrar também na cabeceira, aí foi duas caídas e o serviço que a gente fez não aguentou", explica Ferreira, que ajudou a reparar o último vazamento.
Em 25 de janeiro de 2019, a comunidade do Córrego do Feijão foi a mais afetada pelo crime da Vale. Das 272 pessoas mortas no rompimento da barragem, 27 eram do povoado. Um ano após o crime, 49 famílias já haviam deixado o local por conta do trauma ou por terem suas propriedades compradas pela mineradora.
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Em nota enviada ao Jornal o Estado de Minas na última sexta-feira (19), a MIB Mineração Ibirité Ltda definiu o acidente como “um pequeno carreamento de sólidos" provocado pelas chuvas. Informou também que a lama não é tóxica, pois a "a empresa não opera com o sistema de barragem de rejeito e não tem nenhuma barragem de rejeito em operação ou desativada".
Atamaio contesta o posicionamento da empresa. Ele conta que a nascente, antes da atuação das mineradoras, era usada para irrigação e consumo próprio das famílias do Córrego do Feijão.
“É evidente que eles vão falar que aquilo ali não tem nada a ver, que aquilo não contamina. Mas como uma lama daquela não contamina? Onde passa uma lama daquela não nasce nada”, revela o ex-funcionário da Vale, que vê o córrego enlameado passar embaixo de sua casa.
“Eu me preocupo muito porque, além de a gente ter vidas lá embaixo, temos o meio ambiente que está sendo prejudicado daqui até chegar no Paraopeba”, completa.
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Em 2019, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais (MP/MG), a Justiça determinou a paralisação das atividades da MIB, por conta de irregularidades ambientais. Até o momento, não há informações se a mineradora começou a retirar a lama e reparar o vazamento da última sexta-feira.
No último boletim divulgado pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), em janeiro, o órgão reforça a suspensão dos uso de água bruta do Rio Paraopeba desde Brumadinho até o município de Pompéu, a 250 km do local do crime.
Outro lado
Segundo informações divulgadas pelo jornal O Estado de Minas, a Prefeitura de Brumadinho notificou a MIB Mineração Ibirité LTDA e deu um prazo de cinco dias para a mineradora drenar a lama e apresentar um diagnóstico sobre as condições das bacias de contenção e da área de mineração.
O Brasil de Fato não conseguiu contato direto com a Prefeitura Municipal de Brumadinho neste domingo (21). A reportagem também procurou a MIB Mineração Ibirité LTDA e a Vale, mas não obteve retorno até o momento.
Edição: Lucas Weber