É o momento de repensarmos como vamos avançar na perspectiva de uma revolução verdadeira
Olhar para passos que vêm de longe para alcançar novos horizontes. Fortalecer a organização popular para enfrentar o latifúndio e a desigualdade social. Retomar a terra, proteger o meio ambiente e garantir a possibilidade de vida para as futuras gerações.
Essas e outras reflexões para a construção de um outro mundo estão reunidas no livro Por terra e território - Caminhos da revolução dos povos no Brasil, que será lançado no próximo dia 24 de fevereiro, na Bahia, pela Teia dos Povos - uma articulação entre comunidades, povos originários, periféricos, militantes sem-terra, sem-teto e pequenos agricultores.
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Escrito pelas mãos de Joelson Ferreira, idealizador da Teia dos Povos e militante do movimento sem-terra desde a década de 1980, e de Erahsto Felício, historiador, professor da educação básica e também articulador da Teia, a obra discorre sobre os princípios de referência da emancipação coletiva, com foco, principalmente, na terra, no território e na unidade entre os povos.
Mestre Joelson, como o militante histórico é carinhosamente chamado, afirma que tais conceitos foram deixados de lado por parte da esquerda, e que, em um momento de crise como o de agora, é urgente que sejam retomados.
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“Precisamos encontrar um caminho que seja nosso. Temos um problema grave no processo da luta revolucionário no Brasil que sempre procuramos o caminho dos outros e nunca um caminho nosso. Temos lutas históricas, vitoriosas, e viemos conversando da necessidade de focar nas nossas lutas que nos ajudaram no processo de resistência”, explica o sem-terra.
A esquerda precisa dormir e sonhar com a revolução, mas também fazê-la
Os autores invocam discussões antigas, dos povos originários, para apontar uma transformação social radical, em contraposição à visão utópica-idealista de setores da esquerda.
“É o momento de repensarmos como vamos avançar nessa perspectiva de uma revolução verdadeira no Brasil para que possamos democratizar a propriedade privada, tanto da terra quanto dos meios de produção”, diz Mestre Joelson.
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“E isso só será possível com o povo. Não é nos gabinetes, não é por meio da ilusão das eleições, da conciliação de classe. Eu digo que todos os dias a esquerda precisa dormir e sonhar com a revolução, mas também fazer a revolução. Defendo a construção do poder e para isso é preciso fincar pé na questão da terra e do território”, afirma Erahsto.
Povo soberano
Segundo destaca Erahsto Felício, os caminhos para a revolução perpassam a autonomia dos povos em diversas frentes, seja no que tange o território em si, mas também relacionado a soberania hídrica, soberania pedagógica, trabalho e renda, autodefesa e, principalmente, a soberania alimentar.
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Portanto, para construção deste novo mundo, mais justo e igualitário, a obra enfatiza a importância da agroecologia e da preservação do meio ambiente.
“Um povo sem comida é um povo mais facilmente chantageado pela política da direita e das elites. A soberania alimentar é uma das condições básicas para o enfrentamento radical da luta política. Entendemos que a luta de transformação é de retomada da terra, mas também para subir floresta. Hoje as ameaças climáticas afetam, sobretudo, os mais pobres. É fundamental construir microclimas e proteger as águas para que possamos garantir os bens para as próximas gerações. A defesa da luta e território se conecta claramente com conhecer e proteger os biomas”, defende Felício.
Essa esquerda sem chão, sem cor da terra, desenraízada de uma base na comunidade, teve sua chance e está falhando miseravelmente
O militante conta que a obra também aborda aspectos essenciais das lutas e da auto-organização dos povos, como a fé, a espiritualidade e a ancestralidade, sendo o respeito às diferenças crucial neste processo.
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“Essa esquerda sem chão, sem cor da terra, desenraízada de uma base na comunidade teve sua chance e está falhando miseravelmente no processo de avançar contra o fascismo e reter o processo destrutivo dos territórios e dos biomas. Precisamos de uma outra concepção, que seja alicerçada no chão. Uma esquerda que respeite os povos e consiga ouvi-los”, argumenta o historiador.
>> Leia trecho do livro aqui <<
Sem titubear, os autores ressaltam que a “aliança construída de baixo” é a única saída para a superação do sistema econômico destrutivo em que vivemos, e que, em meio à pandemia, exacerbou a desigualdade.
“Temos que levar com profundidade a aliança dos povos. Indígena, negra e popular. Precisamos construí-la. É um projeto de existência. Como os pobres desse país vão existir? Não é com esmola, com as migalhas que as elites estão dando. Vamos fazer isso quando tivermos coragem e assumirmos a luta pelo poder. E o poder começa pela terra e território”.
O livro Terra e território - Caminhos da revolução dos povos no Brasil pode ser adquirido no site www.teiadospovos.org e pelas redes sociais da Teia dos Povos.
Edição: Daniel Lamir