Álcool em gel vencido, equipamentos de proteção feitos de papel, salas de aula sem distanciamento e ventilação, e merenda servida por voluntários. Essas foram situações denunciadas pelos professores durante o planejamento da volta às aulas em janeiro e no primeiro dia de aula no estado de São Paulo. As atividades presenciais foram retomadas nesta segunda-feira (8), em 516 municípios paulistas.
Para os docentes, a falta de protocolos sanitários e de saúde adequados tem sido ignorada pelo governador João Doria, o que inclui o silêncio em meio ao surgimento de casos da covid-19 nas unidades escolares.
Na Escola Estadual Evandro Cavalcanti, zona sul de São Paulo, o professor de educação física Marcelo Santos testou positivo para a covid-19 dias após o planejamento presencial, que ocorreu na última semana de janeiro.
Mesmo assim, a escola foi reaberta - com pessoas que tiveram contato com ele e outros infectados - e só foi devidamente interditada após pressão dos professores.
“Testamos positivo para a covid-19, e a gente tem a certeza que foi no planejamento, porque a escola não está preparada para receber pessoas do grupo de risco. A escola está preparada para ser escola. A pessoa está com uma suspeita, até que venha o resultado, a escola tem que se manter fechada, e essa é a nossa luta”, afirma o docente.
No balanço divulgado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, a situação na E.E Evandro Cavalcanti nem é citada. O governo estadual confirmou apenas sete escolas da rede pública que não puderam abrir as portas por conta dos casos de covid-19. Duas delas ficam na capital.
Por conta da retomada das atividades, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) está em greve desde ontem. Segundo os docentes, a paralisação tem como objetivo preservar vidas. Até o momento, 206 casos confirmados da covid-19 em 96 unidades escolares foram comunicados ao sindicato por pais e professores.
“Nós estamos recebendo inúmeras denúncias do estado todo de professores que foram infectados, que tiveram contato no planejamento e que as aulas continuam presenciais. A greve foi a opção que ele nos deu para que a gente possa oferecer para os professores essa oportunidade de não se encontrar com o vírus. Para nós é muito importante cada vida”, aponta Cláudia Maria Luciano Limberti, conselheira estadual da Apeoesp, que defende a volta presencial das atividades somente após a vacinação dos docentes.
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Segundo o sindicato da categoria, o primeiro dia de greve contou com a adesão de 15% dos professores em todo o estado. Já o balanço do primeiro dia de aulas indica que apenas 5% dos estudantes foram às escolas, um número bem abaixo da expectativa do governo estadual, que imaginava uma taxa de 35% nas cidades que estão na fase amarela. O ensino público estadual tem hoje cerca de 3,3 milhões de alunos, espalhados em 5.100 escolas.
"Ninguém mais do que os professores quer esse retorno às aulas presenciais. A falta do retorno verdadeiro das aprendizagens dos alunos é o que mais nos angustia. Mas as aprendizagens a gente recupera. Pode ser que a gente demore um tempo para recuperá-las, mas vidas, não. Aluno morto não aprende, professor morto não ensina", opina Limberti.
Outro lado
O Brasil de Fato entrou em contato com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo para entender o motivo da retomada das aulas presencias e comentar a situação ocorrida na E.E Evandro Cavalcanti, mas até o fechamento da reportagem não obteve retorno.
Edição: Raquel Setz