Aqui no momento é só a força da cultura da terra, não estamos com nenhum adubo
Trabalho coletivizado, sementes crioulas e técnicas de agroecologia. Essa é a forma de produção de agricultores do acampamento Maria Rosa do Contestado, localizado no município de Castro (PR).
Segundo os acampados, essa tem sido uma fórmula de sucesso. A última safra de feijão, por exemplo, rendeu mais de duas toneladas do grão, que foi plantado em uma área de 1 hectare e meio, que corresponde a um campo e meio de futebol. E o melhor, totalmente orgânico.
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Vanderlei Vieira é um dos coordenadores do setor de produção da comunidade, ligada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ele conta que o ciclo levou 90 dias, e que não foi utilizado nenhum tipo de agrotóxico. Até maquinários de fora foi evitado para não contaminar a produção.
“Trabalhamos no coletivo, com enxada e com uma carpideira manual que alguns companheiros montaram e fizemos duas limpezas cada safra. Aqui no momento é só a força da cultura da terra, não estamos com nenhum adubo”, enfatiza o coordenador.
A saúde também é outro ganho da produção agroecológica, conta Vanderlei, que trabalhou anteriormente, desde a infância, com lavouras com veneno.
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Hoje, ele acredita que a agroecologia lhe concedeu alguns anos a mais de vida.
“E a gente vê que as doenças, o câncer que está matando, é o veneno. Então a gente tá aí nessa luta e vamos seguir em frente”, afirma.
Criado em 2015, o acampamento foi fruto da luta de famílias de trabalhadores organizados pelo MST. Antes uma área pública sem uso social, hoje o terreno é gerido por 130 famílias que vivem da venda de produtos com certificação agroecológica pela Rede Ecovida.
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Célio de Oliveira, também coordenador da comunidade, destaca que outro ganho da produção agroecológica é a conquista de autonomia por parte dos trabalhadores.
“Nessa forma de trabalho que a gente adotou, pensando também na qualidade de vida das pessoas. E aqui a gente está falando do feijão, mas a gente planta uma grande variedade de produtos. Mandioca, arroz, hortaliças em geral, para a gente ter essa autonomia. E também para gente não ficar escravo do trabalho, do mercado, do sistema, que tenta tirar nosso tempo, do povo trabalho”, alega Célio.
A importância que os acampados do Maria do Contestado dão à saúde e qualidade de vida, não fica só da porteira para dentro. Tanto que a última colheita foi destinada totalmente à doação.
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A iniciativa fez parte de ação de solidariedade do MST com duas outras lavouras coletivas de feijão orgânico: uma no assentamento de Contestado, da Lapa; e outra no acampamento Padre Roque Zimmermann, também de Castro.
No total, foram mais de 8 toneladas do grão colhidos em mutirão e destinados à alimentação dos que sofrem com a fome durante a pandemia.
Liana Franco, agricultora do Contestado e da coordenação estadual do movimento, lembra da importância da solidariedade como prática dos sem-terra.
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“Para nós não é qualquer colheita de feijão, para nós tem um significado muito maior, porque esse produto será um alimento para a partilha”.
O feijão será doado a três cozinhas comunitárias de Curitiba e para pessoas em situação de vulnerabilidade na capital e em Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais do Paraná.
Edição: Daniel Lamir