A estatal Eletronorte demitirá ao menos 235 trabalhadores até fevereiro de 2020. Além dos 194 que foram notificados entre 3 e 4 de janeiro, 19 receberam a notificação na última terça-feira (19) e outros 22 serão notificados do desligamento até o dia 1º de fevereiro.
Os desligamentos estavam previstos em um acordo coletivo assinado junto ao sindicato em 2019, em meio ao processo de desmonte do sistema Eletrobrás – que está na lista de privatizações do governo Bolsonaro (sem partido).
Os estados mais afetados pelas demissões são Pará (71) e Maranhão (60).
Linha de frente
O operador de subestação Ricardo Mafra, de São Luís (MA), trabalhava na Eletronorte há 35 anos até ser notificado, na terça.
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Aos 56 anos, ele alerta para o risco de apagões cada vez mais frequentes. No último dia 8, a capital maranhense ficou sem luz por cerca de três horas. Quem restabeleceu a energia foram justamente trabalhadores que estão na lista de demissões.
"O Maranhão está vivendo um risco muito grande de apagões", alerta, chamando atenção para o desmantelamento da empresa.
"O operador faz o restabelecimento de quando desliga tudo. Ele está lá, 24 horas, de plantão. Não pode ficar sem ninguém. Se der algum problema, o operador é o primeiro a dar manutenção. É muita sorte ainda não ter dado um blecaute aqui no estado do Maranhão", explica.
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Na subestação onde Mafra trabalha, São Luís II, sete dos nove operadores foram notificados da demissão em janeiro.
Também na linha de frente, em momentos de apagão, estão os técnicos de manutenção. Na divisão de São Luís, 7 dos 12 técnicos já receberam carta de demissão. Em todas as regionais do Maranhão, foram desligados 47 técnicos de manutenção e técnicos de operação.
"Estamos entre a cruz e a espada. De um lado a covid, de outro o Bolsonaro botando pra lascar com a gente", lamenta Mafra.
Falência do sistema
O critério usado pela Eletrobrás ao definir quem seria desligado foi idade e avaliação. Integram a lista, basicamente, trabalhadores aposentados ou próximos da aposentadoria.
Em entrevista recente ao Brasil de Fato sobre o tema, Fabíola Latino Antezana, diretora do Sindicato dos Urbanitários do Distrito Federal (STIU-DF), analisa que o sistema Eletrobrás e os Correios estão na linha de frente das privatizações do governo brasileiro. Os desligamentos, segundo ela, fazem parte de um processo de sucateamento para justificar a venda à iniciativa privada.
“Nosso sistema é antigo, não foi modernizado, e não temos pessoas mais novas para repor, e que conheçam esse sistema. O que se desenha é a falência total do sistema no norte do país", analisa.
O último concurso para contratação de trabalhadores foi em 2008, e não há perspectiva de reposição das vagas.
A reportagem entrou em contato com a Eletronorte para confirmar os números de demitidos e ouvir o posicionamento da empresa sobre as críticas apresentadas pelos trabalhadores, mas não houve retorno.
Edição: Leandro Melito