Imunização coletiva

Vacinas: Brasil precisa garantir proteção a maior número de pessoas, diz especialista

Com dois imunizantes em fase de aprovação, Brasil pode desafogar rede de saúde, mas ainda não garante imunidade coletiva

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Interesses políticos travam discussões sobre a vacina no Brasil. - Daniel Schludi/ Unsplash

Nesta sexta-feira (8) a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu dois pedidos de aprovação para uso emergencial de vacinas contra a covid-19.

A Fiocruz requisitou análise dos resultados referentes ao imunizante desenvolvido pelo laboratório AstraZeneca e pela Universidade de Oxford. Horas antes, o Instituto Butantan submeteu os estudos relativos à CoronaVac, produzida em parceria com o laboratório chinês Sinovac. 

Nos dois casos, a Anvisa estabeleceu prazo de dez dias para a resposta aos pedidos de uso emergencial. O registro definitivo das substâncias pode demorar até 60 dias.

A partir do aval de emergência, as campanhas de imunização podem começar. O governo de São Paulo prevê aplicação da Coronavac a partir do próximo dia 25 para grupos prioritários do estado. Já o governo federal diz que há possibilidade de iniciar a campanha nacional até o dia 20.

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Entre as informações enviadas para análise da Anvisa, estão dados sobre os níveis de eficácia das duas vacinas. A Coronavac teve 100% de sucesso para prevenir as formas mais graves da covid-19, de acordo com os testes feitos no Brasil, pelo Instituto Butantan. Na última semana de dezembro passado, a AstraZeneca informou que a vacina que produz também chegou a esses resultados.

"Isso é uma ótima notícia. Uma eficácia de 100% para as formas graves é excepcional.", afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, em conversa com o Brasil de Fato. "Num primeiro momento, isso desafoga a nossa rede de saúde. Porque a imunidade coletiva, que a gente consegue com altas coberturas vacinais, a gente vai demorar um tempo para conseguir."

O médico explica que, mesmo sem a imunização coletiva, a proteção contra formas graves, hospitalizações e mortes é um avanço "muito importante" para conter a crise atual. A covid-19 já tirou a vida de mais de 200 mil pessoas no Brasil e quase 2 milhões no mundo. Juarez ressalta também a importância do foco na coletividade e na garantia do maior número possível de pessoas protegidas.

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"Uma das preocupações, é que não adianta os países ricos vacinarem e os países pobres não vacinarem, porque a doença vai continuar circulando. E, no Brasil, nós temos as duas realidades. A imunidade coletiva é isso, com um grande percentual de pessoas, com isso eu tenho uma possibilidade muito menor de aquele vírus circular e uma diminuição da possibilidade de as pessoas se contaminarem, adoecerem e morrerem."

Confiança

As primeiras vacinas contra a covid-19 ficaram prontas menos de um ano após os registros dos casos iniciais, tempo recorde na história da ciência. A velocidade da conclusão dos estudos é elemento usado para justificar desconfiança e impulsionar um discurso contrário à imunização. Na conversa com o Brasil de Fato, Juarez Castro ressaltou o empenho global na busca por uma solução. "A ciência, nesse último ano, evoluiu muito rapidamente."

"Por que se teve essa urgência? Com quase 2 milhões de mortos no mundo, com 200 mil mortes no Brasil, não adianta eu querer uma vacina para daqui a dez anos. A pandemia é agora e a gente precisa da vacina agora. Apesar dessa velocidade, todos os passos que se preconiza para liberação de uso de vacinas foram observados e rigorosamente tomados", ressalta.

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A Sociedade Brasileira de Imunizações participa de uma mobilização internacional para aumentar a confiança nas imunizações na América Latina. O Projeto ConfíaLa responde às quedas preocupantes na cobertura vacinal da região. No Brasil, nenhuma meta estabelecida foi cumprida em 2019. Em 2020, os índices foram ainda mais baixos.

"A confiança já estava impactando na cobertura vacinal do mundo todo antes da covid. Não é só a confiança na eficácia e na segurança do produto. Eu preciso ter confiança nos governantes, nas instituições, nos profissionais de saúde e na vacina. Esse recado tem que ser passado por todos esses, para estimular a vacinação", conclui Juarez Castro.

Edição: Leandro Melito