O Congresso estadunidense certificou na madrugada desta quinta-feira (7) a eleição do presidente eleito Joe Biden e da vice eleita, Kamala Harris. A decisão veio com a retomada da sessão de certificação após a invasão do Capitólio por apoiadores do presidente Donald Trump, ato que deixou ao menos uma pessoa morta.
Os parlamentares rejeitaram duas objeções aos resultados reportados pelos estados: a primeira, em relação aos delegados do Arizona, cuja discussão teve de ser interrompida com a invasão ao prédio; a segunda, em relação aos da Pensilvânia.
Durante a sessão de certificação, se um deputado e um senador apresentarem uma objeção aos resultados de determinado estado, Câmara (de maioria democrata) e Senado (de maioria republicana) se reúnem para discutir o assunto. Os delegados só são descartados se as duas Casas assim o aprovarem.
No Senado, apesar de alguns parlamentares terem dito que haviam desistido de apresentar objeções, outros o fizeram, como o senador republicano Ted Cruz, do Texas.
No entanto, nos casos de Arizona e Pensilvânia, Senado e Câmara rejeitaram as objeções, inclusive com votos republicanos a favor da derrubada das questões.
Dessa maneira, Biden e Harris agora podem oficialmente tomar posse no dia 20 de janeiro.
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Com a volta da sessão, que foi reiniciada às 22h no Senado e às 23h na Câmara, seguiu-se uma série de discursos condenando a invasão ao prédio. Diversos parlamentares ligaram Trump ao movimento. O agora ex-presidente chegou a dizer, durante a tarde, que marcharia junto com os manifestantes rumo ao Capitólio, o que acabou não fazendo.
Lockdown
Por conta dos protestos, o prédio entrou em lockdown e os parlamentares foram evacuados.
Nas primeiras horas da tarde, centenas de manifestantes já se concentravam em frente ao Congresso para participar do ato convocado por apoiadores de Trump e pelo próprio presidente.
O republicano chegou a discursar aos manifestantes e convocou "uma marcha" até o Congresso para, segundo Trump, "encorajar" senadores e deputados a rejeitarem a vitória de Biden nas eleições.
Minutos depois, os participantes do ato se dirigiram ao Capitólio e as primeiras invasões foram registradas. Pessoas quebraram vidraças e portas para entrar no prédio.
O Senado anunciou a suspensão da sessão e deputados e senadores começaram a ser evacuados do local utilizando máscaras de gás.
A prefeitura de Washington D.C. decretou um toque de recolher a partir das 18h local (20h de Brasília) para tentar conter os manifestantes. Batalhões da Guarda Nacional também foram convocados.
Trump, que havia dito que o vice-presidente e chefe do Congresso, Mike Pence, "não teve coragem" de rejeitar a vitória de Biden, demorou a se pronunciar sobre a invasão e, quando o fez, não condenou o ato, mas pediu para que todos que estivessem no Capitólio permanecessem pacíficos.
Invasores chegaram, por algumas horas, a ocupar o Senado e o gabinete de alguns parlamentares, inclusive da própria presidente da Câmara, Nancy Pelosi.
Pence foi um dos primeiros membros do governo Trump a condenar a invasão, seguido por Mike Pompeo, secretário de Estado. Diversos senadores e deputados republicanos também criticaram o episódio.
Em pronunciamento, o presidente eleito Joe Biden classificou a invasão como "um atentado ao Estado de direito como nunca vimos" e exigiu um pronunciamento de Trump condenando os atos.
"Portanto, chamo o presidente Trump para ir à TV nacional agora, para cumprir seu juramento ao cargo, defender a Constituição e exigir o fim a essa tomada [do prédio]", disse o democrata.
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Segundo a emissora norte-americana CNN, uma mulher foi baleada dentro do Capitólio durante a invasão e morreu no hospital. Os autores do disparo e o motivo ainda são desconhecidos.
O chefe da polícia de Washington D.C., Robert Contee, afirmou que 13 pessoas foram presas durante os atos. "Ficou claro que a multidão tinha a intenção de causar danos aos nossos oficiais", disse.
Mundo condena invasão
Manifestações também vieram de várias partes do mundo. O governo da Venezuela disse que os EUA estavam padecendo "do mesmo que suas políticas de agressão geraram em outros países".
"A Venezuela condena a polarização política e o espiral de violência que não faz outra coisa senão refletir a profunda crise que o sistema político e social dos Estados Unidos atravessa atualmente", disse Caracas.
Em nota oficial, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, chamou a invasão de "atentado contra as instituições" e pediu "a racionalidade necessária para encerrar o processo eleitoral conforme a Constituição".
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O premiê britânico Boris Johnson também se manifestou e chamou de "vergonhosas" as cenas vistas nos EUA nesta quarta. "É vital que haja uma transferência de poder pacífica e ordeira", disse.
Para o ex-presidente da Bolívia Evo Morales, o governo de Trump tentou colocar "em prática um autogolpe para permanecer no poder". "Assim como foi feito na Bolívia, [Trump] promove a violência racista e fascista, e a ele não interessa a democracia", disse.
No Brasil, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva afirmou que a "invasão do Capitólio revela cruamente o que acontece quando se tenta substituir a política e o respeito ao voto pela mentira e pelo ódio".
Lula ainda disse que o episódio foi um "alerta" para o Brasil "sobre o que ainda pode acontecer de pior aqui se não for contido o autoritarismo de Bolsonaro".