Pede pra sair

Juruna, da Força Sindical: se Bolsonaro não pode fazer nada, deve pedir demissão

Para centrais sindicais, recuperar economia depende de vacina, mas governo atua contra a vida, a saúde e os empregos

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Em primeira reunião do ano, centrais sindicais apontaram a necessidade de pressionar o Congresso contra a falta de ações do governo Bolsonaro na pandemia; manutenção do auxílio emergencial também está na pauta - Marcos Corrêa / Fotos Públicas

Por Vitor Nuzzi, da RBA

São Paulo – Para dirigentes sindicais, não haverá retomada de economia sem vacinação. A avaliação foi feita na última terça-feira (5), durante a primeira reunião do ano das centrais sindicais, em que definiram prioridades para 2021, como envolver o Congresso e instituições contra a falta de ações do governo Bolsonaro. Além disso, segundo as centrais, será preciso manter medidas de proteção, como o auxílio emergencial e o programa que preservou empregos e renda, via suspensão dos contratos. Mas as práticas do governo, consideradas “estarrecedoras”, só pioram a crise. Para os sindicatos, o cenário que se apresenta no curto prazo é desolador.

Na avaliação dos dirigentes, o país está atrasado na implementação da vacina por irresponsabilidade do presidente da República. “Sem essa preocupação (vacinas), como é que você vai colocar o pessoal para trabalhar abertamente? Hoje, Bolsonaro demonstrou sua incapacidade”, afirmou o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna. O sindicalista se referia à declaração feita pelo presidente, na última terça-feira (5), de que ele não pode fazer nada porque o país está “quebrado”. “Aquela frase deveria ser acompanhada de outra: peça demissão”, disse Juruna.

“Vai ser bem pior do que a gente observou no ano passado”, afirma o sociólogo Clemente Ganz Lúcio, ex-diretor técnico do Dieese, um dos coordenadores do Fórum das Centrais (CSB, CTB, CUT, Força, Nova Central e UGT). Segundo ele, a agilização de uma campanha de vacinação em massa é questão diretamente ligada à economia. Além disso, o fim do auxílio emergencial e do programa de proteção do emprego e da renda, além de aumentar a pobreza e a desigualdade, levará mais gente de volta ao mercado, elevando o desemprego. “Vai aumentar a pressão da procura (por trabalho). Tudo isso combinado com o risco de não ter imunização, o que vai pressionar o sistema de saúde”.

Orçamento de guerra

Enquanto isso, emenda Clemente, o governo faz o contrário do que se espera do poder público em um momento como este: pratica a desproteção. “Das pessoas, da produção, dos postos de trabalho”, afirma, apontando contrassensos. “Para a própria concepção dele (ministro Paulo Guedes), de que é a economia que importa, a vacinação é uma condição para a atividade econômica voltar”, observa o ex-diretor do Dieese. Mas não houve planejamento sequer para compra de seringas, acrescenta.

As atitudes de Jair Bolsonaro mostram despreparo e irresponsabilidade, diz Juruna. Segundo ele, as centrais vão procurar os candidatos à presidência no Congresso, instituição que tem papel central para definir o que ele chamou de “orçamento de guerra” e pressionar o governo Bolsonaro. E também governadores, prefeitos, empresários e entidades, para uma campanha nacional em defesa da vida, da saúde, do trabalho e de direitos. “Estamos correndo contra o tempo”.