Moradia

Despejo violento em ocupação deixa pessoas feridas em Curitiba (PR)

Sem permitir que voltassem a recolher seus pertences, a Guarda Municipal dispersou as pessoas usando balas de borracha

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
A mãe de uma das moradoras, que a acompanhava após a violência, em meio ao atendimento do Samu, registrou boletim de ocorrência no próprio local, por conta da violência da reintegração de posse - Giorgia Prates

Na manhã desta segunda-feira (7), a recente ocupação de terreno na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), conhecida como “Nova Caiuá”, na região de mesmo nome, ao lado do Cmei Maria Do Rocio Ramina Maestrelli, resistiu a dois dias seguidos de chuvas, mas não à ação violenta da Guarda Municipal, com auxílio da Polícia Militar.

Em plena pandemia, por volta das 9 horas, as cerca de 300 famílias foram comunicadas por um grande efetivo aglomerado da Guarda Municipal: teriam somente 30 minutos para deixar o terreno.

Sem que o choque da Guarda Municipal apresentasse qualquer documento ou liminar, os moradores preferiram deixar o terreno e esperar em frente a calçada a chegada de advogado com orientações.

Porém, não foi possível, sem permitir que voltassem a recolher seus pertences, a Guarda tentou dispersar as pessoas usando balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e spray pimenta, além de uso de força e violência contra os ocupantes.

Um dos casos que mais chamou a atenção foi o da jovem Waleiska Cristina, 21 anos, autônoma, que recebeu um tiro de bala de borracha na panturrilha e mais dois nos braços. Foram vários feridos. As marcas estavam presentes de tiros nos braços, ombros e pernas da multidão que se dispersava.

A reportagem do Brasil de Fato Paraná pôde ainda constatar que a Polícia Militar, no entorno da ocupação, fez revista nas pessoas que deixavam o local. O mais grave, porém, foi a revista em mulheres sem efetivo de policiais femininas.

Waleiska emocionava com seu relato de mãe que há dez dias perdeu o filho recém-nascido e que busca deixar o aluguel insustentável de R$ 500. “Quem que fica dois dias debaixo de chuva em um barracão de lona se não precisasse? Eu sonho em ter um filho adotivo e não tenho condição de ter um imóvel pela Cohab”, exclama Waleiska.

A mãe de Waleiska, que a acompanhava após a violência, em meio ao atendimento do Samu, registrou boletim de ocorrência no próprio local, por conta da violência da reintegração de posse.

Ao longo da tarde, das 16h às 18h, a reportagem do Brasil de Fato Paraná aguardou pela resposta da prefeitura sobre os temas da violência e dos tiros, da ausência de qualquer documentação para o despejo forçado, além da dúvida sobre como as famílias podem agora retirar seus pertences – documentos, celulares, entre outros objetos. Não obtivemos ainda resposta. As famílias também aguardam.

Resposta da Prefeitura

A assessoria de comunicação social da Prefeitura de Curitiba enviou à reportagem o seguinte documento:

"A retirada das pessoas em terreno de propriedade da Prefeitura de Curitiba, nesta segunda-feira (7/12), a CIC, trata-se de esbulho possessório - e não reintegração de posse. É obrigação legal do município o cuidado com imóveis, equipamentos e áreas públicas.

Antes da retirada, servidores da Prefeitura dialogam pacificamente com o grupo de pessoas na área e explicam sobre o procedimento, caso a saída não seja voluntária.

Ainda, Polícia Militar e a Secretaria de Estado da Segurança Pública podem responder sobre a atuação do efetivo na situação"

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lucas Botelho