“A situação mais limite é decidir entre lavar o banheiro e tomar banho. É difícil. Quando lavamos louça, temos que guardar a água que lavou a louça para jogar no banheiro”. O depoimento da atriz Shirley Britto, sem água há 15 dias, retrata parte do drama do desabastecimento de água vivido por mais de um milhão de pessoas da capital do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense.
Shirley mora em uma vila no bairro de Santa Teresa, região central do Rio. O sistema de rodízio não tem dado conta de sua localidade. Na manhã da última quinta-feira (3), a caixa d'água que abastece todos os moradores do prédio em que mora ficou vazia no período da manhã. Segundo a atriz, driblar a falta d'água no meio de uma pandemia, que afetou diretamente os trabalhadores da cultura, tem sido desafiador.
“Nesse momento de pandemia, com menos dinheiro, temos feito tudo virtualmente e tem pingado menos trabalho, mas agora com a falta d'água temos um gasto maior. A gente vai acumulando nos baldes e usa mais álcool para higienizar as coisas”, relata.
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No site da Companhia Estadual de águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), a empresa informa que medidas já foram adotadas para minimizar os danos da falha na Elevatória do Lameirão.
De acordo com a Cedae, já foi implementada a realização de ações operacionais, como “manobras no sistema”, para redirecionar e equilibrar a distribuição de água nas redes de abastecimento através de um rodízio. Há, segundo a companhia, o atendimento prioritário para hospitais e outros serviços essenciais por meio de carros-pipa, também a disponibilização de carros-pipa para o atendimento da população. Foi criado ainda um gabinete de crise para acompanhamento das ações e tomada de decisões.
Sucateamento
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos de Niterói e Região (Sindagua-RJ), Ary Girotta, um projeto de desmonte da Cedae está em curso desde o início do governo de Wilson Witzel (PSC). Na avaliação de Girotta, a gestão de Hélio Cabral à frente da Cedae foi desastrosa – Cabral foi demitido da presidência da Cedae em 10 de fevereiro deste ano no meio da crise hídrica da geosmina.
“Até a chegada de Witzel ao governo do estado e Cabral à presidência da Cedae, a população do Rio não viveu um episódio de tamanho impacto no desabastecimento e transtorno na vida das pessoas. Tem que ficar claro esse recorte temporal deste evento que explicíta para a população o quão perigoso é colocar pessoas que não têm compromisso com a coisa pública para gerir uma empresa do porte da Cedae que atende mais de 11 milhões de pessoas”, explica.
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Segundo o trabalhador, quando o recém-empossado presidente da empresa, o engenheiro Edes Fernandes de Oliveira, era da área de direção de produção em 2019, Cabral foi notificado da necessidade de reparo da Elevatória do Lameirão, porém nada foi feito.
“Nós temos agora na presidência da empresa um engenheiro de carreira, Edes, atual presidente da empresa, que havia sido demitido pelo Hélio Cabral por questionar a maneira como ele conduzia a direção da Cedae. O procedimento de reparo e manutenção da bomba, que espera há 18 meses, foi iniciado pelo Edes quando era diretor de produção da companhia, posteriormente foi demitido e não pode conduzir o processo”, detalha.
Segundo a nota disponível no portal da Cedae, a Elevatória do Lameirão voltará a operar com 100% de sua capacidade até o dia 20 de dezembro. No site também é possível acessar o mapa com as áreas que serão afetadas no abastecimento d´água. Para atendimento sobre falta d’água e solicitação de carro-pipa, a Cedae informa que o usuário deve ligar para 0800-282-1195.
Edição: Mariana Pitasse