Guilherme Boulos (PSOL), Manuela D'Ávila (PCdoB) e Marília Arraes (PT) foram derrotados no 2º turno das eleições em São Paulo (SP), Porto Alegre (RS) e Recife (PE), mas saem do pleito maiores do que entraram. Com menos de 40 anos, os três candidatos de esquerda oxigenaram as disputas em três das capitais mais importantes do país e propuseram alternativas para as realidades locais ao mesmo tempo em que pautaram a necessidade de derrotar o bolsonarismo.
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Na capital paulista, Boulos superou todas as expectativas da pré-campanha. Mesmo com a esquerda fragmentada no 1º turno, superou o candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Celso Russomanno (Republicanos) e fez mais de 40% dos votos contra Bruno Covas (PSDB).
Outra novidade da campanha do psolista foi reunir nomes que estavam de lados opostos na eleição presidencial de 2018, como Lula (PT), Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede).
“A tendência é uma oxigenação do campo da esquerda. O PT continuará como partido mais importante do campo da esquerda, mas sem a mesma hegemonia de antes. O PSOL emerge com lideranças importantes, como o Boulos, enquanto o PT ainda tem uma capilaridade muito maior”, analisou a cientista política da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Maria do Socorro Sousa Braga, durante entrevista ao Brasil de Fato, à TVT e a Rede Brasil Atual no domingo (29).
Após a confirmação da vitória de Covas, Boulos agradeceu os mais de 2 milhões de votos: "O recado é claro: dá para fazer política sem abrir mão dos nossos sonhos, dos nossos valores.
Pronunciamento pós-eleições pic.twitter.com/XlYDbQwH1G
— Guilherme Boulos 50 (@GuilhermeBoulos) November 29, 2020
De todos os candidatos, Boulos foi o nome mais buscado nas redes sociais e na internet ao longo da campanha de 2020.
Com uma trajetória semelhante, Manuela e Marília foram vítimas de ataques misóginos e difamatórios. Mesmo assim, chegaram ao pleito com chances reais de vitória, segundo os principais institutos de pesquisa do país.
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Ambas, que já foram deputadas federais por seus estados, se dedicaram a desmentir "fake news" ao longo de toda a campanha. “Nossa sociedade ainda é muito arcaica no que diz respeito à participação das mulheres na política”, ressaltou o cientista político Paulo Nicoli Ramirez ao constatar as vitórias de João Campos (PSB) e Sebastião Melo (MDB) em Recife e Porto Alegre, respectivamente.
Assim como Boulos, as duas mostraram que a esquerda continua relevante e competitiva, despontando como nomes de peso para futuras disputas em âmbito nacional.
"Agradeço a todo o apoio que recebi nessa caminhada, a quem votou em mim e a cada olhar de ternura que recebi. Enfrentamos muita baixaria e notícias falsas. Mas a democracia é soberana. Desejo sorte ao Sebastião Melo e seguiremos na luta, ao lado de quem quer uma cidade mais justa", escreveu Manuela em suas redes sociais.
Foi uma linda caminhada, ouvimos pessoas de todos os cantos da cidade, nos reunimos com diversas entidades, associações, sindicatos, empresários, pessoas do povo, das comunidades, e construímos um projeto consistente para mudar Porto Alegre. 👇 pic.twitter.com/D3YvLjBZOn
— Manuela (@ManuelaDavila) November 29, 2020
A candidata a vice-presidenta da República em 2018 na chapa de Fernando Haddad (PT) obteve, este ano, 45,37% dos votos na capital gaúcha.
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Também pelas redes, Marília Arraes enfatizou a sensação de dever cumprido: "Nós não perdemos. Mostramos as nossas ideias pro Recife e enfrentamos uma batalha contra as mentiras. Sou muito grata por todo o apoio, carinho e força que recebi de todo mundo, aqui e nas ruas. Conseguimos rachar a muralha do PSB. Da próxima vez a gente derruba". Ela obteve 43,73% dos votos válidos no Recife.
Apenas uma capital brasileira será comandada por mulher a partir do ano que vem: Palmas (TO), onde Cinthia Ribeiro (PSDB) venceu ainda no 1º turno. Dezoito dos 25 eleitos são brancos. Dos sete prefeitos negros, três se declaravam brancos na última eleição.
Edição: Rogério Jordão