Rio de Janeiro

Desigualdade

Negros morrem mais que brancos por covid-19 no Rio, aponta pesquisa da Fiocruz

Entre junho e setembro, quase metade dos óbitos (48,19%) registrados na capital por covid eram de pessoas negras

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Pesquisa aponta que mesmo em áreas onde há o predomínio da população branca, quem mais adoece e morre são os negros - Carl de Souza/AFP

Quase metade dos óbitos registrados na capital do Rio de Janeiro por covid-19 eram de pessoas negras, entre 22 de junho e 28 de setembro. O total corresponde a 48,19% dos mortos no período na cidade, enquanto brancos somaram 31,12%, amarelos 0,49%, indígenas 0,05% e outros 20,15% não apresentaram a declaração de raça/cor preenchida. Os dados são do segundo Boletim Socioepidemiológico Covid-19 nas Favelas, produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

“Quando conseguimos trazer a diferença por raça, principalmente, das doenças infectocontagiosas no Brasil, você demonstra com muita clareza o quanto o princípio da democracia racial cai por terra e não existe. Esse resultado, para mim, escancara essa desigualdade toda”, explica no boletim a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP) da Fiocruz, Roberta Gondim. 

Ainda segundo o boletim, a taxa de incidência e taxa de mortalidade por raça/cor foi cerca de duas vezes maior na população negra do que na população branca nos bairros sem favelas. Nesse sentido, mesmo em áreas onde há o predomínio da população branca, quem mais adoece e morre são os negros. 

"A melhora observada no preenchimento do campo raça/cor foi fundamental para a elaboração dessas análises", explica o pesquisador da Fiocruz André Perisse, um dos coordenadores do estudo. Ele se refere à determinação da Justiça Federal do Rio de Janeiro, no mês de maio, que obrigou que os dados registrados e divulgados sobre os casos de coronavírus no país incluíssem informações sobre a etnorraça dos contagiados.

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No período analisado, os bairros que apresentaram as maiores taxas de incidência foram Centro, Joá, Bonsucesso, Gávea, Humaitá, São Cristóvão, Vista Alegre e Praça da Bandeira. Apesar de serem classificados com baixa concentração de favelas, os bairros da zona Oeste, em especial Campo Grande, Bangu, Realengo e Santa Cruz, concentraram a maior frequência de óbitos. As maiores taxas de letalidade foram observadas em Barra de Guaratiba (16,67%), Senador Camará (12,05%), Vila Militar (11,11%), Cosmos (11,03%) e Santíssimo (10,7%).

O Boletim Socioepidemiológico Covid-19 nas Favelas é elaborado integrando dados oficiais do Painel da Prefeitura, dados dos painéis das unidades de saúde, dados populacionais e cartográficos obtidos no Instituto Pereira Passos e do jornal comunitário Voz das Comunidades. A pesquisa conta também com narrativas de interlocutores do território que, através de suas experiências de vida e trabalho em diferentes regiões da cidade, colaboraram com a produção do material.

Edição: Mariana Pitasse