REAÇÃO

Revolta contra Carrefour gera danos em lojas nas capitais do país e não deixa feridos

Protestos e ações diretas foram registrados em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e DF

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Não houve nenhum registro de pessoas feridas em meio aos protestos contra o Carrefour - Foto: Vitor Shimomura

Protestos em repúdio à morte de João Alberto Silveira Ferreira, um homem negro brutalmente espancado por seguranças do Carrefour em Porto Alegre (RS) na véspera do Dia Nacional da Consciência Negra, foram registrados em ao menos seis capitais brasileiras nesta sexta-feira (20).

As manifestações antirracistas foram marcadas por ações diretas contra lojas da rede como forma de protesto. Em São Paulo (SP), por exemplo, mais de mil manifestantes aderiram à 17ª Marcha da Consciência Negra de SP, que se concentrou no vão do Masp (Museu de Arte de São Paulo) e se dirigiram até uma unidade localizada na rua Pamplona. 

Chegando ao local, os manifestantes conseguiram entrar na loja enquanto bradavam palavras de ordem contra o racismo. Mercadorias foram derrubadas das prateleiras e houve um início de incêndio. Os danos foram apenas patrimoniais. 

Em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, milhares de pessoas se concentraram em frente a unidade onde ocorreu o crime, na avenida Plínio Brasil Milano, que estava de portas fechadas. 

Um grupo tentou entrar no supermercado mas foi reprimido com bombas de gás lacrimogêneo pela Brigada Militar. Ainda assim, alguns manifestantes conseguiram danificar o portão. 

No Rio de Janeiro (RJ), os ativistas fecharam uma unidade localizada na Barra da Tijuca. Os manifestantes empilharam pneus e ecoaram gritos com os dizeres “vidas negras importam”. A PM deslocou a cavalaria até o local mas não houve confronto.

Já em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, protestos e intervenções foram registradas em cinco supermercados da rede francesa. Um ato simbólico aconteceu na Praça Sete, no centro da cidade.

Manifestações antirrascistas também foram registradas nas cidades de Ouro Preto (MG) e Pirapora (MG).

No Distrito Federal, em Brasília, um grupo ocupou uma unidade da rede e com cruzes nas mãos, pediu que os clientes não fizessem compras no supermercado. Além disso, também levantavam cartazes e gritaram frases como "eu não consigo respirar", em referência ao assassinato de George Floyd, homem negro morto durante uma abordagem policial, em maio, nos Estados Unidos.

Um laudo inicial divulgado pelo Instituto Geral de Perícias do RS (IGP-RS) aponta a possibilidade da causa da morte de João Alberto como asfixia.

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Em Curitiba, no sul do país, a manifestação de repúdio foi convocada para uma loja do Carrefour no Parolin. 

Mais de 250 pessoas entraram pelo estacionamento do supermercado gritando palavras de ordem, o que fez o estabelecimento fechar as portas em seguida. 

Repercussão

O posicionamento de mandatários do governo federal sobre mais um episódio gerou ainda mais revolta. O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, declarou na sexta (20), justamente o Dia da Consciência Negra, que não existe racismo no Brasil ao comentar o assassinato de João Alberto. 

“Para mim no Brasil não existe racismo. Isso é uma coisa que querem importar, isso não existe aqui. Eu digo pra você com toda tranquilidade, não tem racismo", disse.

Jair Bolsonaro (sem partido) só se manifestou ao fim do dia citando a violência de uma forma ampla, sem mencionar o assassinato, as agressões contra negros ou se posicionar contra o racismo no país. 

"Não adianta querer dividir o sofrimento do povo por grupos, que a violência, por exemplo, é sentida por todos, de todas as formas”. E afirmou ainda que "o país está longe de ser perfeito, que tem vários problemas que vão além das questões raciais".

Em seu Twitter, o presidente negou a gravidade do racismo no país e disse que, para ele, "todos têm a mesma cor". 

O que diz a empresa

Em nota, o Carrefour anunciou que toda a renda das lojas pelo país dessa sexta-feira (20) será revertida para movimentos, projetos e organizações antirracistas.

“A quantia não reduz a perda irreparável de uma vida, mas é um esforço para ajudar que isso não se repita”, declara a rede, que carrega um histórico de episódios violentos em suas unidades.

O Carrefour disse ainda que romperá o contrato com a empresa que responde pelo segurança que cometeu a agressão.

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Após mais um caso de violência, a rede francesa foi desligada da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, que reúne 73 organizações. A plataforma expressou, em posicionamento público, "profunda repulsa" ao caso.

“É criminoso um ambiente empresarial em que um cidadão entre para fazer uma compra e saia morto. E é conivente todos aqueles que se omitiram e não tomaram as medidas para que essa morte fosse evitada. Inclusive os que se calam”, diz o texto.

Edição: Rodrigo Chagas