Na última segunda-feira (16), a Petrobrás anunciou mais uma privatização na Bacia de Campos, localizada na região Norte do estado do Rio de Janeiro. O teaser oferece a concessão de 50% dos campos de Marlim, Marlim Leste, Marlim Sul e Voador, que formam o Polo Marlim. Juntos, produziram em média 217 mil barris de óleo e 3.611 metros cúbicos de gás por dia ao longo de 2020, o que coloca o complexo como o terceiro maior produtor do país e o maior da camada pós-sal.
A representante eleita dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobrás, Rosangela Buzanelli, questiona o anúncio de venda. “O Complexo Marlim é lucrativo, é o maior produtor do pós-sal do país. E por que você coloca à venda? Existe toda uma perspectiva de revitalização dos campos do pós-sal, que deve melhorar o fator de recuperação desses reservatórios e a produção do pré-sal que ainda está por vir”, aponta.
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Para a conselheira, essa notícia pode significar um desacordo do discurso da atual direção. “A Petrobrás tem dito que pretende se concentrar naquilo que ela domina, que é a produção em águas profundas e ultraprofundas no pré-sal. E aí há aparentemente uma contradição, porque os campos de Albacora e do Complexo Marlim estão em águas profundas e ultraprofundas e abarcam o pré-sal. Se essa fosse a estratégia dominante na empresa, nunca teríamos descoberto os campos no mar, por exemplo, das águas rasas às ultraprofundas, do pós ao pré-sal, porque o desafio é a nossa energia e foi ousando que construímos uma das maiores empresas de petróleo do planeta”, afirma.
A geóloga questiona ainda a estratégia adotada pela atual gestão de concentrar as atividades da empresa nos “ativos de classe mundial”, termo traduzido e repetido como um mantra.
“Esses ativos de classe mundial, no conceito adotado, são ativos extremamente rentáveis, com muito volume, alta produção e retorno máximo em curto prazo e, nesse critério, apenas se enquadra o pré-sal da Bacia de Santos, excluindo todos os outros campos da Petrobrás, que são lucrativos e levaram décadas para serem descobertos e desenvolvidos”, explica.
Para Buzanelli, a estratégia em curso poderá gerar um elevado risco para o futuro da estatal e não encontra precedentes em outras petroleiras mundiais. “Concentrar os investimentos apenas no pré-sal da Bacia de Santos poderá gerar riscos elevados. E se, por exemplo, ocorrer um problema grave (operacional, ambiental, etc.) no campo de Búzios, ou outro super gigante do pré-sal onde a Petrobrás concentrará seus investimentos? E se der um problema de equipamento, se ocorrer um blowout (perda do controle de um poço)? E se tiver que fechar a produção por qualquer desses eventos?”, questiona.
Cidades fantasmas
Neste ano, as privatizações têm se avolumado ao longo dos meses. De acordo com levantamento feito pelo Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP), a direção da Petrobrás colocou à venda ao menos 382 ativos durante os seis primeiros meses de pandemia da covid-19. Na lista, estão 53 campos, 39 plataformas, 13 mil quilômetros de gasodutos, 12 unidades de geração de eletricidade e 8 unidades de processamento de gás natural.
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No Norte Fluminense não foi diferente. Após uma série de privatizações de campos menores, a empresa anunciou a venda em setembro de 100% da sua participação nos campos de Albacora e Albacora Leste, que juntos têm produção média diária de aproximadamente 70 mil barris de óleo por dia.
Esse movimento tem gerado um esvaziamento de diversos municípios da região e, consequentemente, da diminuição da arrecadação. “Quando você tem a venda de ativos para empresas privadas, tem redução do efetivo e dos empregos, precarização das condições de trabalho, menores salários e em muitos casos redução dos royalties. O comércio também vai ser prejudicado, o setor imobiliário, por exemplo. Macaé, hoje, parece uma cidade quase fantasma. Toda a economia dos municípios da região está sendo afetada”, pontua Buzanelli.
No caso do Polo Marlim, além do anúncio da venda de 50% da sua participação nos campos, a Petrobrás também informou que substituirá nove plataformas fixas próprias pelo aluguel de duas plataformas do tipo Unidade Flutuante de Produção, Armazenamento e Transferência (FPSO), que serão afretadas de duas empresas asiáticas, uma japonesa e outra malasiana.
“Essa substituição de plataformas próprias por afretadas já é um movimento que pode enfraquecer toda a região do Norte Fluminense, pela possível diminuição dos trabalhadores e, consequentemente, da arrecadação dos municípios”, aponta.
Na opinião da conselheira, a tendência atual é de enxugamento e delimitação da Petrobrás, principalmente, à capital carioca. “A minha área, que é de exploração, de quem descobre petróleo, já está toda no Rio de Janeiro. Estão deslocando muitos trabalhadores de todo o país para o Rio de Janeiro, o que possivelmente vai gerar redução de quadros, porque não tem espaço para todo mundo”, lamenta.
Fonte: Sindipetro Unificado-SP
Edição: Mariana Pitasse