Este sábado (14) marca o Dia Mundial do Diabetes. Infelizmente, não há muitos motivos para comemorar, pelo contrário.
Segundo o Atlas do Diabetes, publicado pela Federação Internacional de Diabetes (IDF), em 2019, uma a cada cinco pessoas com mais de 65 anos tem diabetes e 79% dos adultos que vivem com a doença estão em países de baixa e média renda no mundo. Somente naquele ano, foram 4,2 milhões de mortes decorrentes da doença.
De acordo com um estudo da Sociedade Brasileira de Diabetes de 2018, em todo o mundo, haverá 629 milhões até 2015. Da América Latina, o Brasil é o país que possui mais casos, com 16,5 milhões de diabéticos, segundo o IDF. No mundo todo, o país ocupa o quarto lugar, atrás da China, Índia e Estados Unidos.
Segundo Nathalia Neiva, médica que integra a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, o cenário piorou durante a pandemia de covid-19, uma vez que esta intensificou a crise econômica.
“Isso fez com que as pessoas alterassem o padrão de alimentação. Às vezes, a queda da renda fez com que voltassem a comer alimentos com mais taxas de carboidratos, que são alimentos mais baratos. Então, a gente começou a identificar mais pessoas desenvolvendo diabetes durante a pandemia”, afirma Neiva.
De fato, houve um aumento de 6% do consumo de doces, 5% de embutidos, como salsicha e presunto, e 4% de congelados. Ao mesmo tempo, o consumo frutas, verduras e legumes em cinco dias ou mais por semana caiu 4% e é feito por apenas 33% dos entrevistados da pesquisa Covid – Pesquisa de Comportamento, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Entre a população de baixa renda, o consumo cai de 33% para 16%.
“A alimentação não é somente uma questão de opção. Não é uma responsabilidade individual. Não adianta nada o indivíduo optar por uma alimentação saudável se não tem condições para garantir isso”, lamenta Neiva.
Para evitar a diabetes, o mais recomendado é uma dieta rica em verduras, frutas, in natura e cozinhados. Devem ser evitados alimentos com grande quantidade de açúcar, como aqueles de farinha branca: pães, bolos, massas, arroz branco em excesso; além dos açucarados, como refrigerantes, bolachas recheadas, alimentos industrializados.
“A gente vai no supermercados e vê fileiras e fileiras de pães, doces, geleias, alimentos que têm muito açúcar. Só lá no finalzinho do mercado que a gente vai encontrar os alimentos que deveriam estar mais disponíveis para nós”, aponta Neiva.
No Brasil, graças ao Sistema Único de Saúde (SUS), aqueles que são diagnosticados como diabéticos têm acesso ao tratamento gratuito. Segundo Neiva, uma pessoa com diabetes precisa de um acompanhamento multidisciplinar. Isso porque a diabetes de tipo 2, a mais comum, se desenvolve a partir de um conjunto amplo de fatores de risco.
Por isso, são necessários os médicos para fazer o acompanhamento médico, nutricionistas para estabelecer uma dieta saudável e acompanhá-la, educadores físicos, exames, medicamentos e outros insumos, como metformina, glibenclamida e gliclazida, fornecidos gratuitamente. “Precisa de um cuidado que é integrado e funciona em rede. É o SUS que vai providenciar isso", ressalta.
Mas o que é diabetes?
Diabetes é uma doença caracterizada pelo aumento da taxa de glicose, ou seja, o nível de açúcar no sangue, que se dá pela dificuldade do corpo em absorvê-la para dentro das células, por causa do baixo nível de insulina.
Em outras palavras, há “uma combinação de uma resistência da ação da insulina que é essa molécula responsável por trazer glicose para dentro da célula fazendo com que a taxa de açúcar no sangue fique permanentemente elevada. Isso se caracteriza como diabetes”.
Os tipos 1 e 2 são os mais comuns. O primeiro é geralmente desenvolvido durante a infância e a causa principal é genética. Neste caso, o organismo produz anticorpos, que são células de defesa, contra as células beta, responsáveis pela produção de insulina e que ficam no pâncreas.
O segundo é frequentemente desenvolvido por pessoas no processo de envelhecimento, a partir dos 40 anos de idade. Aqui, há um aspecto multifatorial: alimentação, sedentarismo, componentes genéticos, obesidade, idade, entre outros.
Neiva explica que o surgimento da doença não ocorre de um dia para o outro. Se esses hábitos que são fatores de risco para diabetes, como alimentação e sedentarismo, forem seguidos diariamente, ao longo de um tempo, “chega um momento em que o pâncreas cansa” e diminui a produção de insulina. Paralelamente, as células também passam a ter dificuldade de absorver grandes quantidades de açúcar do sangue.
A partir dos 42 anos é o momento mais indicado para fazer o exame com regularidade. “No geral, a gente faz o diagnóstico sem a pessoa estar com o sintomas, principalmente quando a gente está falando de adulto caminhando para os 50 anos".
Isso porque a parcela de pessoas que apresentam os sintomas é baixa. Mas quando existem são necessidade de comer muito, muita sede, urinar frequentemente, além de boca seca e emagrecimento.
Edição: Leandro Melito