Forças Armadas

Posts de tenente-coronel contrariam distância entre quartel e política de Pujol

Anderson Valentim é da Academia Militar de Agulhas Negras e tem posição oposta a fala do comandante do Exército

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
o comandante do Exército, Edson Pujol, afirmou “não somos instituição de governo, não temos partido, nosso partido é o Brasil”, mas tenente-coronel é um exemplo do oposto - Reprodução

Nesta sexta-feira (13), para azar de Jair Bolsonaro (sem partido), o comandante do Exército, Edson Pujol, afirmou “não somos instituição de governo, não temos partido, nosso partido é o Brasil”. A fala foi seguida pelo vice-presidente, Hamilton Mourão  (PRTB-RS), e pelo próprio presidente em mais um de seus recuos. Não parece ser, porém, o que pensam alguns militares.

Ouça também: Apagão, pólvora e país de maricas no programa Tempero da Notícia, com Rodrigo Vianna

A evidência disso são as postagens no Facebook do tenente-coronel Anderson Valentim. Ele é professor de filosofia e ética na Academia Militar de Agulhas Negras (AMAN), a mais afamada escola de preparação de oficiais do país. “Arrume outra forma de piorar a sua vida porque votando no PT, você piora a minha também”, diz o cartaz vermelho, com a estrela do partido no centro, que postou no dia 24 de outubro, às 10h19.

Reproduzindo material do programa Os Pingos nos IS, da rádio Jovem Pan, o professor que prepara a futura cúpula da instituição – na rede social ele também se apresenta como psicopedagogo e com 26 anos de Força Aérea Brasileira – criticou a campanha Financiamento Militante lançada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), que ocorreu em 11 de setembro. No vídeo reproduzido, a chamada é “PT resolve meter a mão no bolso do filiado”. Também sobra para Manuela D'Ávila, candidata do PCdoB à prefeita de Porto Alegre.   


No dia 26 de setembro, Valentim festejou, publicando uma foto montada de ambos em que Joice chora e Mamãe Falei mostra-se abatido / Reprodução

"Traidores"

Mas a esquerda não é o único alvo. Dissidentes do bolsonarismo também são atacados. É o caso dos deputados Joice Hasselmann e Artur do Val, hoje concorrentes à Prefeitura de São Paulo. No dia 26 de setembro, Valentim festejou, publicando uma foto montada de ambos em que Joice chora e Mamãe Falei mostra-se abatido. E a legenda: “O preço da traição: Mamãe Falhei tem 2% e Peppa tem 2% de intenções de voto (sic)”. E abaixo: “Os paulistanos não perdoam políticos traidores e oportunistas”.

Em 14 de junho, reverenciou novamente Bolsonaro ao postar a imagem de um círculo com o presidente no centro e no entorno figuras como as do ex-deputado Jean Wyllys, do PSOL, o ex-governador carioca Wilson Witzel (PSC-RJ), Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSDB-SP), Ciro Gomes (PDT), Joice Hasselmann (PSL), João Dória (PSDB-SP), Guilherme Boulos (PSOL) e Adélio Bispo, autor com transtorno mental do atentado ao então candidato do PSL. “Pra esse cara do meio estar errado todos os demais tem que estar certos”, diz o texto.

“Vírus chinês”

No dia 10 deste mês, atacando o isolamento social e os prefeitos que o defenderam e praticaram, Valentim descreveu o 15 de Novembro, data da eleição, como o "dia de votar naquele que lhe encarcerou, lhe abalou (sic) psicologicamente, fechou seu comércio, quebrou sua empresa, fez seus filhos abandonarem a escola (...) E agora? Pede encarecidamente o seu voto!"

O professor da AMAN ainda reforça a fake news do coronavírus ser um “vírus chinês”, usa material da emissora norte-americana e trumpista Fox News para elogiar drogas desacreditadas como a hidroxicloroquina e investe contra a Organização Mundial da Saúde (OMS). 


Tenente-coronel do Facebook é um caso emblemático por ser professor e “chefe da cadeira de Ética Militar nas Agulhas Negras” / Reprodução

“Igual ao Valentin, têm milhares”

Ouvido por Brasil de Fato, um oficial das Forças Armadas que pediu para não ser identificado, concorda com a posição de Pujol no sentido da separação entre quartel e política. Mas não é o que ele está observando.

“Igual ao Valentin, embora o general não queira, têm milhares”. Ressaltou que o tenente-coronel Anderson Valentim é um caso emblemático por ser professor e “chefe da cadeira de Ética Militar nas Agulhas Negras”.

A reportagem tentou entrar em contato com o oficial Anderson Valentim sobre suas postagens e a relação entre a política e os quartéis. Mas não obteve retorno até a publicação.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko