O estilo de vida das pessoas foi substancialmente afetado
Cerca de 47,3% dos trabalhadores de serviços essenciais foram afetados por sintomas de ansiedade e depressão, durante a pandemia de covid-19, no Brasil e na Espanha.
Do total, 44,3% têm abusado de bebidas alcoólicas e 42,9% tiveram mudanças nos hábitos de sono, de acordo com a pesquisa Depressão e Ansiedade Entre Trabalhadores Essenciais do Brasil e da Espanha Durante a Pandemia de Covid-19, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a Universidade de Valência (Espanha).
Entre os dois países, o Brasil é que apresenta dados mais elevados. Dos trabalhadores de serviços essenciais que tiveram sintomas de depressão e ansiedade, 55% deles são brasileiros e 23% são espanhóis.
“Apesar de a pesquisa na Espanha ter sido feita durante a primeira onda, existia uma expectativa de que a epidemia viesse a terminar. Isso não aconteceu, mas foi posterior à pesquisa", aponta o pesquisador Francisco Inácio Bastos, do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), que participou do estudo.
"No Brasil, estamos ainda no que a gente poderia chamar de primeira onda, que não tem um limite. Não se sabe quando ela vai realmente arrefecer”, ressalta.
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Ele também afirma que a rede de proteção social da União Europeia é mais estruturada do que no Brasil.
“Obviamente isso tem um impacto sobre ansiedade, medo de perder emprego, medo de uma crise mais global. Isso explicaria essas diferenças que a gente observou", avalia.
De acordo com o pesquisador, o estudo também trouxe o aspecto das grandes mudanças de estilo de vida que pioraram a saúde mental, gerando problemas como depressão e ansiedade, além de dependência de álcool e outras drogas.“O estilo de vida das pessoas foi substancialmente afetado", pontua Bastos.
Os dados mostraram um estilo de vida pouco saudável está associado a uma chance oito vezes maior de ter sintomas de depressão e ansiedade, durante o início da pandemia na Espanha e no Brasil.
“Problemas em manter uma alimentação saudável, realizar exercício, interação face a face especialmente com famílias e amigos. Para profissionais de saúde, dificuldade de retornar para casa com medo de infectar a própria família. Isso não esgota a questão, mas oferece uma perspectiva”, afirma .
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A pesquisa foi realizada entre os dias 15 de abril e 15 de maio na Espanha e entre 20 de abril e 20 de maio no Brasil. No total, os questionários foram respondidos por 2.842 brasileiros (76%) e 903 espanhóis (24%).
Esses 3.745 responderam “sim” à pergunta: “Você está atualmente trabalhando como profissional de saúde ou de outros serviços essenciais (transportes, alimentação, limpeza)?”. Dos respondentes brasileiros, o perfil atingido foi de mulheres (72,2%), com idade média de 39 anos e curso universitário (56,5%) ou mestrado/doutorado (28,5%).
Edição: Leandro Melito