Música

Atração do II Festival de Cultura Cubana, Fernando Ferrer exalta mistura de ritmos

Cantor caribenho tem 38 anos de estrada e conta que se inspira na magia da música cubana para seguir trabalhando

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Cantor Fernando Ferrer nasceu em Cuba, mas vive em São Paulo e viaja pelo Brasil e pelo mundo divulgando a música latina - Marcelo Rodrigues

O cantor cubano Fernando Ferrer será uma das atrações do II Festival de Cultura Cubana, promovido pelo Consulado Geral de Cuba em São Paulo e pela Associação de Cubanos Residentes no Brasil (Ancreb).

O evento ocorre nos próximos dias 7 e 8 de novembro, com transmissão on-line e pela TVT, a partir das 12 horas.

Com apresentações de dança, poesia e também outras tradições cubanas, o evento contará com um show em que o artista trará um repertório pautado em mesclas musicais.

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Em conversa com o Brasil de Fato, ele não revelou detalhes, mas antecipou que pretende adotar uma mistura de canções com diferentes perfis.

“Sempre é uma homenagem à música cubana. As coisas que a gente está fazendo são coisas bem de raiz e  coisas mais modernas também, pela evolução que tem tido a música cubana, que está evoluindo constantemente sem perder a raiz”, explica.

Ao evocar a riqueza e a diversidade da música cubana em seu trabalho, Ferrer conta que tem predileção por um elemento em particular: o “tres cubano”, um instrumento musical do país caribenho para o qual ele afirma que ainda não encontrou um tocador profissional no Brasil.

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Na falta dessa possibilidade para incrementar os sons que leva ao palco, o cantor faz arte e tenta envolver o público com diferentes ritmos latinos. As opções vão da salsa à guajira, gênero musical bastante popular em algumas regiões de Cuba.

Ele destaca que, no meio dessa mistura, nunca podem faltar as canções que já viraram tradição em shows de música latina. Entre elas figuram “Chan chan”, “Dos gardenias”, “el cuarto de tula” e a queridíssima “Guantanamera”, que atravessou o tempo da década de 1960 pra cá e ainda atiça as emoções do público.

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 “O público pede, exige e, mesmo que a gente às vezes diga ‘ai, já estamos cansados de cantar por aí, todo mundo toca’, tem que respeitar o público. Tem que tocar e levar esse repertório”, conta. 

Apesar de cantar as canções tradicionais do mundo latino, Fernando Ferrer também investe em algumas músicas autorais. Em agosto, no meio da quarentena imposta pela pandemia, que paralisou os shows, o artista aproveitou para compor.

Ele lançou um álbum digital chamado “El Jíbaro”, o seu próprio apelido, que faz referência à ideia de “camponês”. O trabalho tem cinco faixas.

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Em uma carreira que iniciou profissionalmente há 38 anos, Fernando Ferrer já se apresentou em diferentes lugares do mundo. A rota dos shows passou por Canadá, Estados Unidos, países da Europa e do Oriente Médio, além de Holanda, Alemanha e Líbano, onde o artista mostrou o seu trabalho em diferentes festivais.

Questionado sobre a diferença entre esses públicos e o do Brasil, ele conta que os brasileiros costumam se envolver mais com o show.  

 “Aquele povo asiático, europeu, americano vivencia a musica nossa com muito respeito, com admiração para se sentar e curtir a música. Aqui no Brasil há uma diferença grande, porque o pessoal vai pra dançar. Vai pra curtir, mas vai pra dançar mesmo, aí é o sangue latino mesmo”, ressalta.

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E foi no Brasil que ele resolveu criar raízes. “A primeira vez que eu vim tocar no Brasil foi no ano 1996, aí fui embora, depois voltei. Só que, quando eu vinha tocar aqui, viajava, não só em São Paulo, mas em vários lugares do Brasil, eu percebi que o público não conhecia esse tipo de música”.

Diante desse contexto, o músico conta que se sentiu instigado a morar no país, onde vive desde 2001, mais precisamente em São Paulo.

“Aquilo me trouxe uma inquietude e eu falei pra mim ‘se eu fico por aqui fazendo um trabalho desse tipo, talvez seja bom pras duas partes, pro mundo conhecer o que acontece nesse mundo da salsa e pra eu também ter um caminho, ser pelo menos um dos primeiros que tocaram música latina, musica cubana aqui’”, afirma o cantor. 

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A carreira por aqui tem valido a pena e rende viagens permanentes a outras cidades do país. Sobre a inspiração para seguir cantando depois de quase 40 anos de estrada, Fernando Ferrer conta que a magia da música cubana dá uma ajudinha especial.

 “Cuba tem uma energia diferente. Não sei por que, não me pergunte. Eu não sei explicar, mas tem uma energia diferente. Eu hoje subo no palco parece que estou incorporado, parece que estou tocando lá mesmo, em Cuba”, finaliza.

 

Edição: Douglas Matos