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Caroneiro em Nova Olinda

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Fiquei então num banco no meio da praça, imaginando se conseguiria chegar de volta a São Paulo - Reprodução
E viajamos de carona, almoçando banana e comendo manga como sobremesa

Hoje em dia, parece que dinossauro está na moda.

Tem livros, filmes e até um parque na zona Sul de São Paulo, com o tema dinossauro.

E isso me lembra Santana do Cariri, no Ceará, que tem um grande sítio arqueológico e até um museu muito importante.

A primeira vez que fui a Santana do Cariri foi com um amigo que nasceu lá. Parte da viagem foi pelo rio São Francisco, num navio a vapor que gastou sete dias para ir de Pirapora, no norte de Minas, até Juazeiro, na Bahia, divisa com Pernambuco.

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O problema é que torramos a grana em bebidas, com amigos que conhecemos no vapor. Em Petrolina, com parte do pouco dinheiro que sobrou, enchemos nossas mochilas com banana e manga. E viajamos de carona, almoçando banana e comendo manga como sobremesa. Jantando manga, e comendo banana como sobremesa.

Em Santana do Cariri, nos empanturramos de comida todos os dias. Depois de uma semana lá, meu amigo ficou com a família e eu peguei uma carona até Nova Olinda, onde devia pegar outra para o Crato e continuar rumo a São Paulo.

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Eu usava um chapéu de vaqueiro para me proteger do sol. E a minha barba preta ficava ruiva pela poeira. Em Nova Olinda, terra de baixinhos de barba rala, eu era diferente, bem mais alto e barbado. Perguntei onde era bom pra pegar carona para o Crato e me mostraram um bar na praça:

— Tudo quanto é carro que vai pro Crato para naquele bar ali.

Pensei em tomar uma cerveja enquanto esperava carona, mas contei os trocados que me restavam e não dava. Fiquei então num banco no meio da praça, imaginando se conseguiria chegar de volta a São Paulo.

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Quando parasse um carro em frente ao bar, correria para lá. Minutos depois, chegou um maluco, daqueles bem sujos, e sentou-se no banco em frente. De vez em quando, ele se levantava, gritava algumas coisas sobre comida, xingava os ricos, e sentava de novo.

Logo parou um menino a uns cinco metros de distância e ficou olhando. Depois parou um homem... depois uma mulher... mais um pouquinho e havia uma multidão em volta, todo mundo olhando. Eu fiquei pensando: “Será que esse louco não é daqui? Por que tanta gente olhando pra ele? Por que tanta curiosidade?”.

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Passou mais um pouquinho, mais uns gritos, e o louco foi embora... e continuou todo mundo ali. Ninguém arredou o pé. Só aí percebi que a curiosidade ali não tinha nada a ver com o louco, era comigo. Eu era mais estranho que o doido. Talvez um doido novo na praça.

Edição: Leandro Melito