O que Arizona, Flórida, Geórgia, Carolina do Norte, Ohio, Iowa e Texas têm em comum? Estes são estados em que Joe Biden e Donald Trump estão em empate técnico – com menos de 4 pontos percentuais de diferença nas pesquisas. E, além destes sete estados, há mais um em que, apesar de a diferença ser ligeiramente maior do que 4 pontos, está tão perto desta margem que, em caso de erro nas pesquisas, pode dar a presidência a qualquer um dos dois candidatos: a Pensilvânia.
Tradicionalmente, nesta lista, só Pensilvânia, Iowa, Ohio, Flórida e a Carolina do Norte (desde 2008) são swing states clássicos – ora dando a vitória para um democrata, ora para um republicano. Mas o fato de haver empate em estados como Geórgia, Arizona e Texas mostra o quanto a campanha de Donald Trump enfrenta problemas. A última vez em que o Arizona votou em um democrata foi em 1996, com Bill Clinton; a Geórgia, em 1992, também com Clinton; o Texas, em 1976, com Jimmy Carter.
Nacionalmente, Biden está na frente, com cerca de 9 pontos percentuais de diferença para Trump, mas o que decide a eleição nos EUA não é o voto popular total, mas o vencedor de cada estado. Hillary Clinton, por exemplo, ganhou com 2,09 ponto percentual de Trump em 2016 no voto popular, mas perdeu no Colégio Eleitoral de 304 a 227. São necessários 270 votos eleitorais para vencer.
Vejamos, a seguir, a situação em cada um destes estados e como cada um deles pode ser decisivo:
Flórida – 29 votos eleitorais
O estado que é famoso por suas eleições muito apertadas (em 2000 a diferença foi de 537 votos) não foge à regra este ano. Biden e Trump chegam às vésperas do pleito com uma diferença de cerca de 2 pontos percentuais. Em 2016, o republicano venceu no estado com 1,19 ponto percentual a mais que Hillary Clinton.
A Flórida é fundamental para Donald Trump. Se ele perde no estado, o caminho para que ele atinja os 270 votos praticamente deixa de existir. Para Biden, no entanto, a Flórida é importante, mas não necessariamente decisiva: de acordo com as pesquisas atuais, Biden pode se dar ao luxo de perder o estado, em que pese o fato de que isso reduz – mas não bloqueia – as chances de ele atingir o número mágico.
Traduzindo em números: segundo o site FiveThirtyEight, se Biden ganha na Flórida, o democrata passa a ter mais de 99% de chance de levar a eleição. Se o vencedor é Trump, o republicano passa a ter 29% de chance – ainda baixo, mas não impossível.
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Pensilvânia – 20 votos eleitorais
A Pensilvânia, por outro lado, pode ser decisiva para ambos os candidatos, e é o estado a se observar nesta eleição. Biden lidera a média das pesquisas com cerca de 5 pontos percentuais, muito próximo do que pode ser considerado empate técnico.
Em 2016, a diferença entre Hillary e Trump era de 3,7 pontos percentuais, na média, dentro da faixa de empate técnico. A expectativa era de que, apesar dos números, a democrata vencesse no Estado, já que um republicano não ganhava lá desde 1988, com George Bush. Porém, na abertura das urnas, os votos em regiões mais afastadas da cidade da Filadélfia e os de trabalhadores brancos sem escolaridade deram a vitória a Trump com 0,71 ponto percentual.
Segundo o FiveThirtyEight, uma vitória de Biden na Pensilvânia dá ao democrata 98% de chance de levar a eleição; uma de Trump dá ao republicano 63% de chance de vitória.
Geórgia – 16 votos eleitorais
Para muitos analistas, a Geórgia é um retrato da posição vulnerável de Trump nas pesquisas – mesmo que não o mais acabado, por assim dizer. No estado que o republicano levou por 5 pontos percentuais em 2016, Biden aparece com uma vantagem próxima dos 2 pontos percentuais – ou seja, uma mudança de 7 pontos a favor dos democratas em quatro anos.
Em 2018, a candidata democrata ao governo do estado, Stacey Abrams, perdeu para o republicano Brian Kemp por 54,7 mil votos – a menor diferença desde 1994. A campanha dela ajudou a energizar os democratas, em especial a população negra, já que Abrams poderia se tornar a primeira governadora afrodescendente da Geórgia.
Biden encontra bastante força em grandes áreas urbanas, como Atlanta, mas ainda tem dificuldades em subúrbios mais afastados da cidade. Se o democrata ganhar na Geórgia, é um indicativo de que ele terá uma noite eleitoral feliz. Em números: de acordo com o FiveThirtyEight, uma vitória dá a Biden mais de 99% de chance de levar a eleição; uma vitória de Trump aumenta as chances do republicano para 23%.
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Texas – 38 votos eleitorais
Se a Geórgia não é o retrato melhor acabado da vulnerabilidade de Trump, o Texas provavelmente ocupa o posto. Quem imaginava que um democrata teria uma chance de levar o Texas, um estado que não vota no partido há 44 anos?
Trump está na frente na média das pesquisas, com 1,03 ponto percentual de diferença para Biden. Em 2016, ele levou o estado por quase 9. Quatro anos antes, em 2012, o republicano Mitt Romney levou com uma diferença de 15,79 pontos percentuais em relação ao então presidente Barack Obama.
O próprio senador texano Ted Cruz, republicano, já admitiu que o estado está em jogo. Cruz, em 2018, ganhou por pouco no Senado do democrata Beto O’Rourke, que também fez uma campanha que energizou seu partido. A esperança de Trump é que os votos de seus eleitores consigam compensar a diferença pró-Biden nas grandes cidades do estado (o voto democrata, no país, é majoritariamente urbano).
Uma vitória de Biden no Texas seria um indicativo de que a eleição seria uma lavada democrata. Por outro lado, uma vitória de Trump no estado é equivalente a quase como cumprir uma obrigação – não altera muito suas chances de ganhar a reeleição.
Ohio (18 votos eleitorais) e Iowa (6 votos eleitorais)
Ohio e Iowa são dois estados-pêndulo clássicos, mas o fato de a eleição estar tão apertada neles causou alguma surpresa. Trump ganhou com uma margem confortável em 2016 (8 pontos percentuais em Ohio e 9,4 em Iowa).
Hoje, Biden e Trump estão praticamente empatados em Iowa (1,77 ponto percentual a favor do republicano) e em Ohio (0,69 ponto percentual a favor de Trump). Estes números mudam todos os dias e, em ambos estados, ora Biden aparece na frente, ora Trump.
De acordo com o FiveThirtyEight, uma vitória de Biden em qualquer um dos Estados – e não necessariamente nos dois ao mesmo tempo – tende a liquidar a eleição, dando-o 99% de chances de vitória. Como Trump venceu bem em 2016, as chances do presidente de se reeleger não se alteram substancialmente em caso de vitória – 18% com vitória em Ohio, 19% em Iowa.
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Arizona – 11 votos eleitorais
O Arizona é um estado que os democratas sempre depositaram esperanças de vitória – e perderam por pouco em 2016 (3,6 pontos percentuais). E, ao longo dos anos, a margem de vitória republicana vem caindo. Para efeito de comparação: em 2012, Romney ganhou de Obama por cerca de 9 pontos percentuais. Agora, em 2020, a média de pesquisas coloca Biden com vantagem de 3 pontos percentuais em cima de Trump. Caso este número se confirme, será uma mudança de cerca de 6 pontos a favor dos democratas em um período de quatro anos.
O grande prêmio no estado é o condado de Maricopa, área que abrange a capital Phoenix e concentra mais de 60% da população do Arizona. Trump venceu em Maricopa com 2,76 pontos percentuais – mas as pesquisas deste ano mostram Biden em vantagem próxima a 9 pontos.
Para o FiveThirtyEight, uma vitória de Trump no estado eleva as chances de reeleição para 28%; uma de Biden, as reduz para 2%.
Carolina do Norte – 15 votos eleitorais
A Carolina do Norte está na wishlist democrata para vencer desde 2012. Sempre falta combinar com os quase sempre vencedores – os republicanos, no caso. A última vez que os democratas levaram o estado foi em 2008, com Obama, e por 0,32 ponto percentual.
Trump e Biden aparecem empatados, mas com o democrata em vantagem – a qual se reduziu nas últimas semanas, mas se estabilizou na casa dos dois pontos. Se Trump vence na Carolina do Norte, suas chances de levar a eleição sobem para 28%; caso Biden seja o vencedor, elas caem para menos de 1%.