economia

Artigo | As perspectivas para o mercado de trabalho: desemprego e incertezas

São 14,4% ou 13,8 milhões de pessoas em busca de uma oportunidade de trabalho segundo o IBGE

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Isso aponta para uma conjuntura de extrema incerteza no próximo período, que vem minando as condições concretas de incorporar novamente os desempregados na esfera produtiva - Roberto Parizotti / Fotos Publicas

Nos últimos meses notícias de que um restaurante conhecido fechou, ou um bar que costumávamos frequentar faliu, ou que a farmácia no caminho do trabalho não está abrindo se tornaram notícias corriqueiras.

Para além do impacto na nossa vida cotidiana o fechamento de empresas, comércios e serviços se desdobra de forma mais contundente para a vida da população, que vê a deterioração das oportunidades de trabalho.

Nesse sentido, os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ilustram bem esse cenário, chegamos ao recorde da série do percentual de pessoas desocupadas, são 14,4% ou 13,8 milhões de pessoas em busca de uma oportunidade de trabalho.

Além disso, o número de pessoas no que chamamos Força de Trabalho potencial, ou seja, pessoas desocupadas, mas com potencial de se tornarem economicamente ativas é o maior até aqui, totalizando 13,6 milhões de pessoas.

Um importante indicador que nos revela outras elementos, mais alarmantes, é o chamado desalento. O desalento nada mais é que pessoas que estão desocupadas, com disponibilidade para assumir algum posto de trabalho, mas que desistiram de procurar emprego por falta de perspectivas de encontrar alguma oportunidade. Essa população chegou a quase 6 milhões de pessoas em idade ativa.

Caso essas 6 milhões de pessoas, ou parte delas, voltassem a procurar emprego isso entraria no percentual de pessoas em situação de desocupação. Nesse caso temos, efetivamente, uma taxa de desemprego potencial de aproximadamente 19%, um número consideravelmente maior.

Lembrando que muitas pessoas que estão na força de trabalho potencial, não estão desalentadas, por não estarem disponíveis na semana da pesquisa para ocupar um trabalho, seja por motivos de saúde ou por alguma impossibilidade momentânea, mas a qualquer momento podem também retornar a estar disponível de forma mais efetiva.

Além disso, a participação dos salários na economia vem caindo consideravelmente, fruto da expressiva parcela de pessoas que estão fora da força de trabalho.

Isso aponta para a importância do auxilio emergencial, que vem sustentando tanto as condições de sobrevivência de um grande contingente de pessoas, cerca de 66 milhões de beneficiários, mas também vem também minimizando os impactos na economia, mantendo uma certa demanda que vem segurando uma queda ainda maior do caixa das empresas e a manutenção de empregos.

Nesta semana, a equipe econômica comemorou que o saldo dos postos de trabalho formal gerou um saldo positivo de 313 mil vagas. Quando olhamos os setores eles estão concentrados no setor do agronegócio e na construção civil, setores conhecidos por ofertarem oportunidades precarizadas, baixa remuneração e de alta instabilidade.

Além disso, vemos uma retração significativa nas oportunidades de trabalho no setor de serviços, comércio e indústria, pela quebra destes setores, que concentram grande parte da procura por emprego.

Isso aponta para uma conjuntura de extrema incerteza no próximo período, que vem minando as condições concretas de incorporar novamente os desempregados na esfera produtiva.

Nesse sentido, o fim do auxilio emergencial aponta, para uma degradação completa da conjuntura econômica e social em 2021. Segundo algumas projeções, o corte do auxilio representará “forte ressaca”, com a redução notória da renda total em circulação na economia brasileira, que é o que vem segurando a economia e o mercado de trabalho.

Isso têm colocado a atual equipe econômica em um momento de decidir entre implementar uma renda básica permanente que atenda os desafios que estão estabelecidos para o próximo período, mas, nesse caso, precisa enfrentar inevitavelmente a Emenda Constitucional do teto dos gastos (EC 95).

Ou mantém o teto, mas concretiza um cenário de completa devastação social. Diante da elevação da incerteza, da quebra das empresas, do desemprego, desalento e da fome, parece óbvio o caminho a ser seguido.

*Iriana Cadó é economista especialista em Economia Social e do Trabalho. Militante da Consulta Popular. Comentarista de economia do Brasil247

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Leandro Melito