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Bolívia e Chile: a injustiça pode até vencer a batalha, mas jamais vencerá a guerra

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Eles dizem que não querem mais a Constituição da ditadura de Pinochet. Não querem mais a Constituição que faz do Chile uma grande empresa privada - Carlos Vera / Fotos Públicas
Essas foram duas grandes chamas de esperança para a América Latina

Nesses últimos dias dois grandes acontecimentos marcaram - e certamente marcarão - mudando o futuro e a trajetória da política no mundo, mas principalmente na América Latina. Eu me refiro a duas eleições: eleições presidenciais na Bolívia e o plebiscito no Chile.

Na Bolívia, no último dia 18, a população voltou às urnas para, novamente, eleger o Presidente da República, os deputados e senadores.

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Isso porque as eleições de 2019, que foram eleições legítimas e livres, foram consideradas fraudulentas pela direita boliviana, que esteve ao lado dos norte-americanos, manipulando o processo que impetrou um golpe, não só contra Evo Morales, que foi o vencedor, mas contra o povo boliviano e contra a própria democracia. 

A partir do golpe, com a realização de inúmeros protestos e manifestações em todo o país, o povo conquistou o direito de retornar às urnas. E retornando às urnas no último dia 18, deu uma vitória acachapante à democracia, às forças progressistas e ao MAS, que é o partido de Evo Morales. 

O candidato do MAS, Luis Alberto Arce, foi eleito com mais de 55% dos votos contra somente 28% do seu principal adversário, Carlos Mesa. O MAS também conquistou a maioria das cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, com 56% e 58%, respectivamente. 

Ou seja, após já ter sido comprovado que não houve qualquer fraude nas eleições de 2019 - e se não houve fraude, houve golpe na Bolívia - o povo voltou às urnas e devolveu o poder ao MAS. Porque isso significa devolver o poder a quem encaminhava a Bolívia para o processo e para o projeto de um país independente, soberano e que tinha como prioridade a inclusão social.

O povo boliviano disse não aos americanos, disse não ao neoliberalismo e disse sim a essa política de soberania e de inclusão social. 

O outro fato são as eleições do plebiscito ocorrido no último dia 25 no Chile. Da mesma forma, um plebiscito fruto de grandes manifestações, de grandes protestos populares de um ano atrás.

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No exato dia 25 de outubro de 2019 mais de um milhão e 200 mil pessoas foram às ruas, em especial na Praça Itália, em Santiago do Chile, protestar contra as péssimas condições de vida da população, contra o empobrecimento em massa do povo chileno, contra a falta de acesso à saúde, à educação, à aposentadoria e contra os salários aviltantes. 

Depois destes protestos o governo foi obrigado a fazer um acordo com as forças democráticas e parte do acordo ocorreu no último dia 25 com a realização do plebiscito.

Na votação, 78% dos chilenos e das chilenas disseram que queriam uma nova Constituição. Eles dizem que não querem mais a Constituição da ditadura de Pinochet. Não querem mais a Constituição que faz do Chile uma grande empresa privada e que coloca na marginalidade a grande maioria do povo.

Estes 78% disseram que querem uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva e paritária, composta por 50% de homens e 50% de mulheres e que estes sejam responsáveis por escrever uma nova Carta Magna que coloque o Chile num novo caminho, num caminho onde as pessoas possam ter acesso à educação pública, à saúde, à aposentadoria. Onde possam ter acesso ao trabalho com salários justos e direitos para a maioria do povo.

Então estes foram dois grandes ensinamentos. Duas grandes chamas de esperança para a America Latina, mas também para o mundo inteiro. Dois exemplos que mostram que resistir e lutar vale a pena porque o lado da verdade, o lado da justiça é o lado de cá. 

A injustiça pode até vencer a batalha, mas jamais vencerá a guerra. 

Edição: Rogério Jordão