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Baile de formatura

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Ouça o áudio:

Repare no cantor. Como canta bem! Se morasse em São Paulo ou no Rio se tornaria um cantor famoso, mas aqui... - Scotthuehnerkrisp / Fotos Públicas
E ele foi para a final, com uma interpretação maravilhosa

Hoje eu levantei lembrando dos bailes de formatura.

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Era um acontecimento importante na vida da gente, e divertido. Exigia também que a gente aprendesse a dançar valsa, pois tinha o momento em que todos os formandos e suas madrinhas de formatura tinham que dançar solenemente a dita-cuja, que geralmente era “Danúbio Azul”, “Valsa do Imperador”, ou alguma outra vienense.

A formatura não era necessariamente de cursos universitários. Eu me lembro mais era de formação do curso colegial. Eu mesmo encarei a obrigação de dançar uma valsa quando me formei como técnico em contabilidade.

Em São Paulo alugavam salões chiques para formandos realizarem o tal baile.

E haviam orquestras famosas, que tinham como principal fonte de renda tocar nesses bailes nos meses de dezembro e janeiro, sempre aos sábados.

Na minha terra, Nova Resende, em Minas Gerais, onde nem tinha curso colegial, faziam baile de formatura do curso ginasial, equivalente ao primeiro grau de hoje. Os formandos tinham 14 ou 15 anos, mas o tom solene era o mesmo.

Morando em São Paulo, fui passar um final de ano em Nova Resende, em meados dos anos 1960, e coincidiu de ter um baile de formatura do ginásio.

Nessa época esses bailes já não eram com orquestras, e sim com conjuntos de meia dúzia de músicos e um crooner, quer dizer, um cantor.

Fui lá, de terno e gravata, como se exigia, pensando em tirar umas mocinhas bonitinhas pra dançar de rosto colado e cochichando nos seus ouvidos.

O conjunto que tocava nessa noite era da região. O crooner era um jovem negro que cantava maravilhosamente. Tão maravilhosamente que eu parei de dançar e fiquei só vendo e ouvindo as suas interpretações.

Um amigo me viu assim e falou:

- Tanta moça bonita aqui e você aí parado...

Respondi:

- Repare no cantor. Como canta bem! Se morasse em São Paulo ou no Rio se tornaria um cantor famoso, mas aqui... vai ficar nisso, cantando em bailes de formatura de ginásio.

Passado um tempo, em 1967, a TV Globo promoveu um festival da canção e uma semifinal foi em Ouro Preto.

Aí, para cantar uma música concorrente, entrou um rapazinho negro. Era aquele que cantou num baile de formatura em Nova Resende.

E ele foi para a final, com uma interpretação maravilhosa.

Era Milton Nascimento cantando a música “Travessia”.

Edição: Rogério Jordão