No próximo dia 15 de novembro, quando serão disputadas as eleições municipais, a pequena cidade de Eldorado, na região do Vale do Ribeira, em São Paulo, onde Jair Bolsonaro (sem partido) cresceu, pode ser comandada pelo quilombola Oriel Rodrigues Moraes, de 48 anos, candidato petista ao cargo.
Oriel enfrentará nas urnas três adversários, o atual prefeito Dinoel Pedroso (PL), Zetinho (DEM), e Tikinho Feliciano (Republicanos), apontado em Eldorado como candidato apoiado pela família Bolsonaro.
Em 2017, durante um evento no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro, Bolsonaro atacou a população quilombola. “Eu fui em um Quilombo em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Acho que nem para procriar serve mais”, afirmou o presidente.
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Bolsonaro foi denunciado por Raquel Dodge, procuradora-geral da República na época, por racismo. O Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou a denúncia em 2018. Oriel, que vive em Ivaporunduva, um dos 12 quilombos da região, não quer dar entrevistas e nem falar sobre o episódio e a família do presidente, que ainda vive no município.
Mas em contato com a reportagem do Brasil de Fato, Oriel e sua vice, Yvi Karina Wiens, explicaram que não faz parte da estratégia da candidatura polarizar com os Bolsonaro. A ideia, caso vença a eleição, seria construir um governo de coalizão em Eldorado, dialogando com os diversos setores políticos do município, inclusive com a família do presidente.
Oriel evita o rótulo de anti-bolsonarista, entendendo que seu plano para levar melhorias ao município será melhor concretizado se evitar polêmicas com o campo político adversário. Ele vem, inclusive, rejeitando pedidos de entrevista da imprensa que focam no fato de ele ser quilombola.
Não há pesquisas sobre intenções de voto para a Prefeitura de Eldorado. Porém, as chances de vitórias de Oriel pode estar nas mãos da população quilombola, que é expressiva e, organizada em cooperativas, se tornou importante para a economia local.
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Em Eldorado, os 12 quilombos cooperam para a produção de mais de 200 itens agrícolas, todos orgânicos. O método de cultivo e a agricultura quilombola no Vale do Ribeira foram tombados como Patrimônio Cultural do Brasil, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em setembro de 2018.
A agricultura quilombola não contrasta com a principal atividade econômica da família Bolsonaro. Os irmãos do presidente administram uma rede de lojas de móveis, com unidades espalhadas pelo Vale do Ribeira.
Theodoro Konesuk, casado com Vânia Bolsonaro, irmã do presidente, é dono de uma fazenda de 323 hectares em Registro, município vizinho de Eldorado, na margem do Vale do Ribeira.
Edição: Leandro Melito