A comunidade acadêmica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) realizou, na última quarta-feira (14), uma plenária virtual para debater a atual situação de intervenção federal. Recentemente, o governo federal nomeou a chapa de Carlos Bulhões para a reitoria da UFRGS, contrariando a vontade da comunidade que elegeu outra chapa. A chapa de Bulhões teve a minoria dos votos, ficando em 3° na disputa, porém foi nomeada por ser alinhado ao governo federal, através de uma campanha pública de políticos de direita próximos ao presidente.
Nome rejeitado pela comunidade, Bulhões assumiu em posse discreta, justificada pela momento de pandemia. Além disso, logo após a tomada do cargo, Bulhões rapidamente investiu em mudanças na estrutura da universidade, modificando conselhos e pró-reitorias. Esses atos aconteceram sob protestos e mobilizações da comunidade, tanto nos conselhos, quanto manifestações pedindo respeito à autonomia da comunidade universitária.
A plenária geral de quarta-feira (14) se insere nesse contexto, debatendo a continuidade da luta contra a intervenção federal. Segundo Mariane Quadros, coordenadora do Sindicato dos Técnico-administrativos da UFRGS (ASSUFRGS), o espaço foi muito importante por proporcionar o debate e a aproximação das três categorias (técnicos administrativos, estudantes e professores) em luta contra a intervenção federal.
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Mariane constata que essa luta é também em defesa da universidade pública e por democracia interna. Além disso, ressalta a importância da adesão da comunidade da UFRGS a outras pautas que, da mesma forma, atacam a educação de uma forma geral. "A luta contra a Reforma Administrativa que vem para privatizar e desmontar os serviços públicos, e a defesa da vida, contra o retorno das aulas presenciais no estado e município sem condições de segurança para a comunidade escolar."
A necessidade de união e de conectar outros temas com a atual conjuntura foi reforçado por Ana Paula, do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRGS, na abertura da plenária, contextualizando os motivos do chamamento do espaço, feito pelo DCE em conjunto com a Associação de Pós-Graduandos (APG) e dos demais centros acadêmicos, por entender a importância de toda a comunidade da UFRGS se envolver na resistência à intervenção.
A estudante lembrou também que esse tipo de ataque não ocorria desde a ditadura militar, ressaltando a gravidade da intervenção e o que ela significa para a educação atualmente: "A comunidade escolheu não somente uma chapa e um candidato, mas um projeto para a UFRGS. Bulhões foi rejeitado pela comunidade, juntamente com seu projeto de educação. Não sabemos que tipo de acordo pode ter sido feito entre ele e Bolsonaro."
O professor Guilherme Dornelas, da Seção Sindical do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES) na UFRGS, também esteve presente na plenária e relatou à reportagem que muitos dos participantes, em suas falas, fizeram referência ao fato desta intervenção não estar descolada do conjuntura política nacional, fazendo parte de um conjunto de cerca de 15 outras instituições de ensino superior federais do Brasil que passam por processos semelhantes.
"Bulhões demonstra não conhecer bem o funcionamento de algumas normas da Universidade. Ele juntou pró-reitorias desrespeitando o regimento da UFRGS, nomeou diversas pessoas para cargos, substituiu técnicos de carreira da área de processamento de dados por um professor aliado, por exemplo", afirma Guilherme, destacando que essas atitudes demonstram que Bulhões pode não respeitar os processos de democracia interna, como as escolhas de diretores de unidades acadêmicas.
Segundo ele, vive-se um contexto de ataque à educação pública e de qualidade, que tenha como referência as necessidades do povo, através de um desmonte das estruturas das universidades, principalmente através de cortes de orçamento e da Emenda Constitucional 95. Sobre esses ataques, afirma ser necessário o enfrentamento a essa intervenção e também à reforma administrativa proposta pelo governo federal.
Deliberações da Plenária
Além da construção de uma moção de repúdio contra a intervenção, foi deliberado o apoio à greve dos educadores do município e dos funcionários do Instituto Municipal da Estratégia da Saúde da Família (IMESF), da mesma forma que a contrariedade com o retorno das aulas presenciais e com a reforma administrativa.
Nesse sentido, está sendo organizada uma campanha de pressão e cobrança para que se publicize a pesquisa da Pró-Reitoria de Planejamento sobre o Ensino Remoto Emergencial.
Sobre a intervenção, decidiu-se atuar nos conselhos universitários para cobrar reuniões e tentar barrar que Bulhões tome decisões em relação à universidade, inicialmente com a transmissão ao vivo da reunião do Conselho Superior Universitário, na sexta-feira (16).
A plenária deliberou a adesão à construção do Dia Nacional de Lutas, no próximo dia 28, criando uma comissão com a APG, ASSUFRGS, Andes, DCE, trabalhadores terceirizados e outros setores, além de atividades de agitação e divulgação. Também ficou deliberado a construção de um calendário de lutas prolongado, visando um congresso estudantil após o fim da pandemia, para discutir a estatuinte por paridade, democracia e autonomia.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira e Katia Marko