Certamente vai ser um desafio da ciência e da humanidade, a gente vai ter que conviver com a covid
A informação de que uma pesquisa realizada na Coreia do Sul indicou que nove em cada dez pessoas que tiveram a covid-19 relataram sintomas posteriores a cura da doença é mais um exemplo de que, após o controle da pandemia, a humanidade ainda terá muitos aspectos para descobrir sobre o coronavírus. No momento, a prioridade de estudiosos no mundo todo é o resolver a emergência sanitária e achar uma vacina efetiva. Mas é consenso que haverá muito trabalho pela frente depois disso.
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Na Coreia do Sul, os ex-pacientes relataram sentir fadiga, dificuldades de concentração, perda de olfato e paladar e efeitos psicológicos. Mas não é só no país asiático que há afirmações nesse sentido. Ainda em junho, uma pesquisa italiana analisou 143 pacientes. Mais de 70% relataram sequelas como dificuldade de respirar e tosse. Nos Estados Unidos, um estudo do Centro de Controle de Doenças apontou que 90% dos infectados experimentam sintomas posteriores.
Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais tem chegado a conclusões semelhantes no Brasil. Um mês após a alta, os pacientes ainda sentiam fraqueza, fadiga, falta de ar, menor capacidade de realizar esforço físico, depressão e ansiedade. A previsão de duração do estudo mostra que a ciência ainda vai se debruçar sobre o coronavírus por um bom tempo. Cerca de 400 pessoas serão acompanhadas por um ano e meio.
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"A gente ainda precisa saber muito. Nesses últimos meses, obviamente as pesquisas estavam muito voltadas para entender a infecção agora, o impacto agora, no momento de adoecimento", afirma o médico de família Aristóteles Cardona, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, no podcast A Covid-19 na Semana. "Mas a gente já começa a ter outros estudos e o tempo precisa passar para que essas situações sejam observadas"
O médico afirma que os relatos de sintomas após a infecção têm sido comuns, o que indica a necessidade de acompanhamento desses pacientes. Mas a atenção da ciência certamente não vai se limitar aos sintomas que permanecem em quem já foi contaminado. A evolução do vírus, possíveis mutações, novos tratamentos e a possibilidade de novos surtos também já são foco de pesquisadores. Os efeitos da doença em diferentes populações e como minimizar a ocorrência de casos graves também estão na lista.
"A gente vai passar a conviver com a covid. Provavelmente ela não vai desaparecer. Em vários momentos da história a gente tem esses exemplos", afirma o médico. Ele relembra os avanços da ciência no tratamento de doenças que representaram momentos de pânico para a humanidade, como a tuberculose, o HIV e a sífilis. "A medida que a gente vai resolvendo uma parte dos problemas, outros vão aparecendo. É por isso que a ciência é fundamental."
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A possibilidade de que a covid adquira caráter endêmico também não está descartada. "A endemia é quando a gente tem uma determinada doença que, a partir de fatores específicos, a gente vai ter a presença constante daquela doença". Exemplos dessa natureza são a dengue e a gripe. "A campanha de vacinação não acontece sempre na mesma época do ano por acaso", ressalta Cardona.
Ainda não existe certeza de que a covid-19 vai passar a ser uma doença endêmica no Brasil. Mas não há dúvidas de que ela não vai desparecer da realidade. Para a ciência, isso não significa nenhum tipo de "novo normal", expressão que ficou popular para descrever o período pós-pandemia. Na verdade, é apenas o andamento corriqueiro da prática, essencial para o futuro do planeta.
Edição: Camila Salmazio