Rio Grande do Sul

Coluna

Medo do orgasmo, medo da vida

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Reich descobriu que organismos encouraçados têm dificuldade de suportar o funcionamento biológico natural, ou de presenciar esse funcionamento - Arte: James R. Eads
A angústia de orgasmo é idêntica ao medo que as pessoas têm de dar certo, de serem felizes

Wilhelm Reich descobriu que os organismos neuróticos sentem muito medo da sensação de prazer. O prazer, do ponto de vista biológico, é um movimento de expansão do organismo, que acontece de forma lenta e ondulatória. Ele significa um aumento da quantidade de energia nas extremidades do corpo, em oposição à angústia, que é o movimento de concentração energética no centro do organismo (contração). Para ser experimentado o prazer, é necessário que o organismo possua um fluxo emocional relativamente livre.

O movimento vital se baseia na liberdade do fluxo energético em um organismo. Esse fluxo é idêntico às emoções, que são literalmente movimentos para fora (e-moção), movimentos expressivos de um corpo. Os organismos biológicos respondem aos estímulos do mundo com emoções. Como expressão máxima da liberdade dos fluxos emocionais no corpo humano nós temos a experiência do orgasmo, que tem a função de descarregar de maneira prazerosa o excesso de energia.

A angústia orgástica, por outro lado, é um produto perverso da repressão sexual que, imposta sobre um organismo, cria e aumenta progressivamente a estase sexual. Estase é o nome dado à paralisia da energia biológica, que resulta da repressão.

Pois bem, a estase aumentada enfraquece a capacidade do organismo de obter satisfação, já que, quanto mais a energia corporal está bloqueada em contrações musculares, por exemplo, menor a capacidade do organismo para descarregá-la. Como consequência, o organismo adquire medo da excitação, ou, em outras palavras, angústia sexual.

Assim, a angústia sexual é inicialmente causada por um impedimento externo (repressão), mas ela se ancora, isto é, se fixa no organismo, na forma de medo da excitação sexual. Este medo é o que impedirá a satisfação sexual futura.

A angústia de orgasmo é, então, o temor do ego em relação à excitação extremamente poderosa do aparelho genital e em relação a todas as formas de sensação ou excitação corporal, ou da percepção de tais sensações e excitações. Ela se deve ao desconhecimento orgânico em relação à experiência do prazer e em relação aos movimentos involuntários do corpo que acompanham a entrega sexual e a liberdade emocional. Estes, tendem a ser sentidos por organismos encouraçados (isto é, organismos que têm seus fluxos de energia paralisados ou diminuídos) como ameaçadores e misteriosos; como perda de controle, possibilidade de enlouquecer, como a iminência de um piripaque, como medo da morte ou de morrer, etc.

Podemos dizer que a angústia genital (o medo mais ou menos consciente da excitação sexual) é o fenômeno que forma a base para a reatividade em relação ao conhecimento objetivo das funções vitais da sexualidade e do orgasmo. Essa angústia inconsciente pode ativar em sua defesa toda a sorte de ações destrutivas quando o assunto é sexualidade. Pode se expressar como risadas debochadas e histéricas diante do assunto, ou como uma defesa racional moralista. Pode se expressar como irritação, como inquietação, ansiedade, ou um incômodo genérico diante do tema.

Reich descobriu que organismos encouraçados têm dificuldade de suportar o funcionamento biológico natural, ou de presenciar esse funcionamento. Diante disso, é ativada sua reatividade. Essa seria uma das razões pelas quais os adultos têm tão pouca tolerância à espontaneidade, sinceridade e vivacidade das crianças, buscando que elas desenvolvam formas de controle o mais precocemente possível.

A angústia de orgasmo é o cerne da angústia geral de prazer. Ela é idêntica ao medo que as pessoas têm de dar certo, de serem felizes, de experimentarem a expansão e a estruturação. Esse medo tem como base também o sentimento de culpa que acompanha o prazer genuíno em nossa sociedade. Ele, que está encravado nas profundezas do organismo, é o principal motivo pelo qual as pessoas reproduzem comportamentos de autossabotagem. “O prazer de viver e o prazer do orgasmo são idênticos. Uma extrema angústia de orgasmo forma a base do medo generalizado à vida” (A Função do Orgasmo).

Descrição da imagem: trata-se de uma ilustração de um "abraço cósmico". No centro da imagem, o desenho de duas pessoas se abraçando, podemos ver seu tronco, braços e cabeças. Os contornos de seus corpos são preenchidos de estrelas. Em volta deles, uma série de linhas sinuosas e coloridas preenchem o restante do quadro. É como se esse abraço se dissolvesse nessas linhas, se misturasse nelas, fosse feito dessas linhas e de um céu estrelado.

Edição: Katia Marko