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Papo esportivo | Quando a diretoria do Flamengo será cobrada pelas decisões absurdas?

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Mesmo com todos esses problemas o Flamengo foi lá, fez seu papel vencendo o Barcelona Guayaquil - Divulgação/ Flamengo
A semeadura é livre. Mas a colheita, meu amigo, é obrigatória

Nada como um dia após o outro, não é mesmo? Todo o contexto que se desenhou nos últimos dias transformaram a partida do Flamengo contra o Barcelona de Quayaquil em um confronto de proporções épicas.

Surto de covid-19 no elenco, 11 desfalques por uma série de razões, treino cancelado por causa da chegada das cinzas de um vulcão além (é claro), de toda a pressão em cima de Domènec Torrent por causa da goleada sofrida no jogo contra o Independiente del Valle.

Mesmo com todos esses problemas o Flamengo foi lá, fez seu papel (ainda que apresentando vários problemas coletivos) e venceu o Barcelona de Guayaquil por 2 a 1 na última terça-feira (22), com gols de Pedro e Arrascaeta. O resultado manteve o escrete rubro-negro na segunda colocação do Grupo A com nove pontos (mesma pontuação do Independiente del Valle que acabou sendo goelado por 4 a 1 pelo Junior Barranquilla).

Eu poderia utilizar todo nosso espaço da coluna pra comentar o jogo, falar das escolhas de Dome, da péssima forma física dos jogadores, das dificuldades que o elenco vem encontrando para assimilar os conceitos do seu treinador e mais uma porção de coisas. Mas vou abordar um assunto diferente.

Por conta do surto de covid-19 no elenco do Flamengo, a diretoria do clube já pediu à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) o adiamento da partida contra o Palmeiras, válida pela 12ª rodada do Campeonato Brasileiro e marcada para este próximo domingo (27), em São Paulo. No entanto, em entrevista à Rádio Bandeirantes, o secretário-geral da entidade, Walter Feldman, adiantou que o pedido do Fla deve ser negado.

A situação é bastante complicada.

Da delegação que viajou para o Equador foram catorze contagiados: Diego Ribas, Rodrigo Caio, Matheusinho, Isla, Filipe Luís, Michael, Vitinho, Bruno Henrique, Gabriel Batista, Renê, Thuler, Marcos Braz (vice de futebol), Juan (auxiliar) e Márcio Tannure (médico). Isso é o que sabemos até agora e pela imprensa, já que o clube não se manifesta oficialmente antes das contraprovas dos exames.

O cenário é desanimador, mas aqui vale uma reflexão, pessoal. Vocês já pararam para perceber como é interessante ver como os deuses do futebol utilizam nossas decisões para nos ensinar sobre ética, retidão e consciência social. É como dizem por aí, minha gente. A semeadura é livre. Mas a colheita, meu amigo, é obrigatória.

A diretoria do Flamengo fez seu torcedor corar de vergonha quando forçou a barra para retomar as atividades em um dos momentos mais críticos da pandemia do novo coronavírus. O time chegou a jogar no Maracanã quando o hospital de campanha ainda funcionava ao lado do estádio em um dos espetáculos mais tristes que eu já vi.

E essa mesma diretoria segue se reunindo e fazendo ligações no mínimo discutíveis com gente que só quer saber de encher o bolso e que está pouco se lixando para os quase 140 mil mortos. E esses dirigentes conseguiram o que queriam: o Campeonato Carioca voltou, assim como o Brasileirão, a Copa Libertadores da América e a Copa do Brasil.

E adivinhem só qual foi o resultado dessa soma de fatores. Um belíssimo surto de covid-19 dentro do clube a poucos dias de jogos importantíssimos. É até difícil saber qual time que Dome vai escalar para as partidas contra o Palmeiras e o Independiente del Valle. Os mesmos dirigentes que brigaram com Deus, o mundo e a ciência para retomar as atividades agora precisam lidar com uma explosão de casos de coronavírus dentro do clube

Que coisa, não? Quem poderia imaginar que isso fosse acontecer?

Impossível não perceber que a diretora do Flamengo está colhendo tudo o que plantou. E o mesmo vale para o “torcedor de dirigente” e o “torcedor de protocolo” que bateu no peito para comemorar essas “vitórias” da diretoria rubro-negra. Os mesmos cegos que não conseguem enxergar um palmo à frente dos olhos e perceber o óbvio: que não há como se pensar em futebol quando se está no meio de uma pandemia descontrolada.

Lembram da semadura? Pois é. Agora é preciso colher todos os frutos podres.

E não foi por falta de aviso. Mas o que mais me deixou pistola da vida foi ver que todo e qualquer ser que se colocava contra as decisões desses dirigentes era acusado de “não ser flamenguista”, de “torcer contra” e até de “perseguição institucional”. E o que tinha de influenciador digital tomando as dores da diretoria e se fazendo de desentendido conforme as notícias vinham chegando do Equador era uma festa, pessoal.

Sobre a partida com o Palmeiras, é preciso que ela seja adiada por razões óbvias. Vale lembrar todo o elenco do Flamengo está contaminado pelo novo coronavírus.

Será que não seria o caso de se adiar as partidas para que não haja uma verdadeira explosão de casos na reta final das competições?

O problema aqui é a postura de todo e qualquer dirigente de futebol desse país. Quando um clube é prejudicado pela arbitragem, por exemplo, os outros não saem em defesa. Pelo contrário. Sentem alívio. É o popular “antes ele do que eu”. São esses mesmos dirigentes que passam por cima das pessoas e do bom senso para atingirem seus objetivos.

Eu quero saber é quando a diretoria do Flamengo será cobrada de verdade por conta das decisões absurdas que vem tomando. E não não me refiro apenas ao surto de covid-19. Temos que citar as alianças com o governo federal para ganhar a “MP do Mandante” de presente por conta da briguinha com a TV Globo, a forma como as vítimas da tragédia do Ninho do Urubu foram tratadas ao longo dos últimos meses, o descaso com os torcedores mais pobres, o espaço dado a youtubers que só fazem passar pano para as lambanças dessa mesma diretoria e mais uma porção de coisas.

Essa diretoria precisa parar de usar o ano mágico de 2019 e os feitos de Jorge Jesus como justificativa pra fazer lambança.

E pra terminar o papo por aqui. Dirigente vir a público falar que o Palmeiras não quer adiar o jogo de domingo (27) para levar vantagem quando o próprio Flamengo treinou escondido quando ainda não era permitido e fez tudo o que fez nos meses anteriores é o tipo de postura que faz o clube ganhar uma antipatia imensa por parte da imprensa e dos verdadeiros torcedores. É assinar o atestado de hipocrisia.

Impossível não notar que o Fla está se transformando num menino mimado porque é administrado pelos mesmos meninos mimados do Leblon que não querem largar o osso. Daqueles que esperneiam e fazem birra quando são contrariados.

Edição: Mariana Pitasse