Para a direita ligada ao pensamento do governo federal, quanto menos conhecimento, melhor
A educação brasileira está imersa numa grande disputa.
Temos uma vertente da extrema direita representada pelo governo Bolsonaro e outros setores de apoio ao governo federal que deslegitima os conhecimentos provenientes da ciência e chegam a negar a própria educação formal. Para essa direita ligada ao pensamento do governo federal, quanto menos conhecimento, melhor.
Por outro lado, temos uma direita liberal, dos conglomerados educacionais e que pautam a educação a partir de interesses de mercado. Para estes, como o Kroton Educacional, a educação parte de uma sociedade meritocrática na qual têm acesso aqueles que merecem. Em uma via de oposição a estas, existe o projeto que é defendido pelos movimentos populares, da educação como direito, como uma forma de libertação do povo brasileiro e uma forma uma forma de construir nela nossa soberania.
E, a partir desta via, há anos vêm se desdobrando experiências de solidariedade do povo para a disputa da educação. Foram cursinhos populares, alfabetização de jovens e adultos, educação do campo que permitiram que diversos trabalhadores e trabalhadoras tivessem a oportunidade de disputar o que os que têm poder morrem de medo que acessem: conhecimento.
Os ataques do governo Bolsonaro à educação
A construção de ferramentas que disputam a educação é muito importante no sentido de resgatar o sonho do acesso ao ensino superior. (Leonardo Paes - CPP Agentes Populares de Educação)
O governo Bolsonaro, até mesmo antes de ser eleito, já trazia no seu programa questões muito particulares em relação à educação. Primeiro que ele não trazia nenhuma perspectiva de projeto de investimento nem de quais seriam seus objetivos com a educação brasileira. Porém ele tinha uma frase bem específica que era “expurgar Paulo Freire da educação brasileira”.
No início do ano passado tentou cortar verbas das universidades e já anunciou um orçamento para 2021 com outros cortes. O Enem vai ser realizado em janeiro e muitos jovens estão sem nenhum preparo para realizar o exame, ainda mais os de escolas públicas, com condições extremamente precárias e desiguais de acesso à internet e até à energia elétrica. Dessa forma, qual vai ser a perspectiva de acesso ao ensino superior? Quem conseguirá acessar?
Agentes Populares de Educação: povo cuidando do povo
Essas atuações nos territórios, essa campanha de solidariedade, cria vínculos com um povo que nos possibilita aprender com um povo - para lembrar um outro educador nosso, Paulo Freire - para aprender com o povo. (Miguel Yoshida)
A Campanha Periferia Viva nasce da articulação dos movimentos populares do campo e da cidade durante a pandemia do coronavírus para a construção de uma política de solidariedade a nível nacional que fomente a organização popular. No último período, além da distribuição de cestas básicas e de alimentos provenientes da agricultura familiar, estamos formando também Agentes Populares por todo o Brasil. É o povo cuidando do povo, já que o governo não cuida.
A proposta se iniciou em torno da pauta da saúde na via do agravamento das condições de saúde pública no Brasil e a necessidade da defesa da vida. “Porém com o passar do tempo em que fomos adentrando nas periferias, vimos que a saúde era somente a porta de entrada e que o trabalho, a cultura e a educação eram questões latentes também”, explica Leonardo Paes da coordenação político-pedagógica dos Agentes Populares de Educação da Campanha Periferia Viva.
Os Agentes Populares da Educação surgem em um momento em que as demandas da população vão se tornando ainda mais emergenciais, por exemplo, com o fechamento das escolas e a evasão escolar por dificuldade de acompanhamento das aulas à distância.
Essa dificuldade se soma também ao fato de as escolas serem não só um ponto do estudo, mas também um ponto de acolhimento familiar. Muitas crianças e jovens têm na escola um local para alimentação, para reduto já que na casa há muita violência, etc. Dessa forma, o Agente Popular de Educação surge para retomar o papel de acolhimento e acompanhamento da criança, do jovem, mas também do núcleo familiar.
A construção de bibliotecas populares
A gente sempre teve mesmo essa política de incentivar a construção de bibliotecas populares junto com os diversos movimentos nas ações de trabalho de base. Pensando que esse pode ser um elemento também organizativo então a biblioteca é um lugar onde as pessoas se reúnem onde as pessoas conversam, têm assunto para conversar. Então pode ser um ponto de encontro e pode ser um ponto ou um local de formação dessas pessoas. (Miguel Yoshida)
A editora Expressão Popular em conjunto com a campanha Periferia Viva está com uma campanha “Solidariedade: doe livros para transformar o mundo” e, dentre as diversas ações, está a proposta de construção de mais de cem (100) bibliotecas populares até o fim do ano.
De acordo com Miguel Yoshida, representante da editora, a proposta de construção das bibliotecas sempre esteve no norte da editora como uma forma de fomentar que, a partir da solidariedade e da leitura, sejam construídos vínculos nos territórios que avancem na formação e no trabalho de base.
De acordo com ele, a proposta da campanha de construção dos Agentes Populares de Educação, além de possibilitar esse contato e esse fortalecimento dos laços com o povo, também vai ser de extrema importância para fortalecer as bibliotecas populares, os kits da “mochila militante” e as distribuições de livros na cesta básica, porque é através destes militantes que são captadas as demandas do povo e propiciados os trabalhos de organização popular.
Construir a proposta da Biblioteca Popular como local de encontro e formação e não como “depósito de livro” é necessário para que, articulado com as diversas iniciativas já construídas pelos movimentos populares, como o “Sim, eu posso” ou a rede de Cursinhos Populares “Podemos+”, seja possível atuar na formação e acolhimento de crianças, jovens e das próprias famílias. Construindo uma educação do povo, com o povo e para o povo, assim como nos ensinou o bom velhinho, Paulo Freire.
Edição: Rodrigo Chagas