A pandemia está longe de controle. Não podemos fechar os olhos para a realidade.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) inicial essa semana com um alerta global: no domingo (13), o mundo registrou número recorde de pacientes com covid-19 para 24 horas. Foram 307.930 novas confirmações da doença, a segunda vez que o patamar ficou acima de 300 mil. Alguns dias depois, o total de contaminados em todo o planeta ultrapassava 30 milhões de pessoas.
É difícil negar que o avanço do coronavírus do mundo tenha relação com a abertura de economias e o relaxamento no isolamento social. Na quarta-feira (16), a Organização Pan-Americana da Saúde pediu atenção para viagens turísticas no continente, que tem metade das infecções do planeta. Os registros diários são menores do que os observado em junho e julho, mas a queda não é substancial.
Na sexta-feira (18), a OMS deu uma espécie de advertência ao continente europeu, que voltou a registrar recordes de contaminados. Foram 300 mil novos pacientes na semana que se encerrou em 13/09, número mais alto que os relatados em março, quando a Europa viveu o primeiro pico da doença.
Em todo o mundo, as nações começam a responder aos novos números. Reino Unido, França, Espanha, Holanda, Coreia do Sul, Israel e Nova Zelândia são alguns dos exemplos de países que já retomaram as medidas mais rígidas de isolamento ou estudam voltar a colocá-las em práticas nos próximos dias.
Em conversa no podcast A Covid -19 na Semana, o médico de família Aristóteles Cardona, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, afirma que o coronavírus "está muito longe de controle". Ele ressalta que o momento ainda é preocupante, apesar dos avanços da ciência em tempo recorde. "A gente não pode fechar os olhos para a realidade e para a evidente compreensão de que ainda não nos livramos da pandemia."
No Brasil, o crescimento da epidemia está ocorrendo em velocidade menos elevada nas últimas três semanas. Segundo o Ministério da Saúde houve queda de 30% nos registros de caso no período que se encerrou em 13/09. No entanto, o número continuou acima de 200 mil, o que vem ocorrendo desde junho. Também houve queda nas confirmações de óbitos, mas os casos fatais são superiores a 5 mil desde maio.
Em entrevista coletiva, o Secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, foi perguntado se o Brasil estaria preparado para uma eventual segunda onda. Em resposta, afirmou que o SUS vem demonstrando que tem capacidade, mas que não é possível saber se haverá um novo pico de infecções.
Diante das evidências cada vez mais fortes de que a diminuição do isolamento traz novos casos, Aristóteles Cardona discorda, "Se a gente olha para qualquer lugar do mundo que analisa a pandemia de uma forma séria, a gente pode falar tranquilamente que novas ondas podem acontecer e estão acontecendo.Se muita gente ainda não adoeceu e o vírus está circulando, é inadmissível que um representante do Ministério da Saúde se pronuncie falando que não sabe."
Para fechar a semana no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro desdenhou das medidas de isolamento social. A uma plateia de ruralistas em Mato Grosso, ele disse que as ações nesse sentido são "conversinha mole" e completou que ficar em casa "é para os fracos". Bolsonaro não fez nenhuma menção as mais de 135 mil pessoas que já morreram em território nacional por causa da covid-19.
Edição: Rodrigo Durão Coelho